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  • Foto do escritorClarissa T. H. Fujiwara

Raio-X do alimento: Ameixas

Pertencente a um grupo de frutas conhecido como “frutas de caroço” (do inglês, stone fruits) ou, no termo técnico, drupas, a ameixa é produzida por uma árvore do gênero Prunus, que abarca também frutos como o pêssego, a nectarina, o damasco e a cereja, por exemplo.


Atualmente, os maiores produtores mundiais de ameixas consistem na China, com 6,8 milhões de toneladas, a Romênia, com 434 mil toneladas, e os Estados Unidos, com 423 mil toneladas de produção do fruto. No Brasil, apresenta importância econômica a espécie Prunus salicina, conhecida como ameixeira japonesa e originária da região não somente do Japão, mas da China e das Coreias.



Na tabela abaixo, pode-se observar os valores nutricionais referentes à 100g de ameixa fresca e ameixa seca e o teor de água que reduz significativamente na versão desidratada. Apenas para referência, em média, 1 unidade de ameixa apresenta cerca de 60g, enquanto 3 unidades de ameixas secas pesam aproximadamente 30g:


Esses são frutos predominantemente fonte de carboidratos e apresentam baixo índice glicêmico. A ameixa também é um alimento popularmente reconhecido por promover o funcionamento intestinal e, de fato, é uma fruta fonte de fibra alimentar, a parte de alimentos vegetais que o organismo não é capaz de digerir e que, portanto, não é metabolizada e absorvida. Como resultado, no intestino grosso, as fibras exercem efeito mecânico, absorvendo água e formando o bolo fecal, proporcionando benefícios frente à queixa de constipação. Adicionalmente, o consumo destas fibras exercem efeito prebiótico e contribuem para a manutenção da microbiota intestinal saudável. Além disso, ameixas contém sorbitol, substância de ação laxativa que estimula a peristalse intestinal e ajuda a reduzir o tempo de trânsito das fezes e, consequentemente, a longo prazo reduz o risco de câncer colorretal e hemorróidas. Também, a presença de ácidos clorogênicos nas ameixas podem potencializar a atividade laxativa.


As ameixas são consideradas um alimento com grande capacidade antioxidante. Antioxidantes são compostos que protegem as células frente aos danos causados por radicais livres, moléculas instáveis que resultam do metabolismo celular normal, exposição ao cigarro, poluição e irradiação UV. Pesquisas sugerem que o excesso de radicais livres pode contribuir para o envelhecimento precoce, maior risco de doenças cardiovasculares e desenvolvimento de certos tipos de câncer.


Grande parte do poder antioxidante das ameixas pode ser atribuída às antocianinas, pigmentos flavonóides com propriedades antioxidantes concomitantemente aos altos níveis de ácidos hidroxicinâmicos - compostos fenólicos - que contêm, incluindo ácidos neoclorogénicos e clorogénicos, que demonstram ser altamente eficazes na eliminação de radicais livres.



Ameixas e saúde óssea

A perda de massa óssea ocorre a partir da terceira década de vida em torno dos 35 anos, visto que até essa idade há mais ganho de osso em relação à perda. Como o passar da idade, a relação entre as células formadoras e as que reabsorvem o tecido ósseo tende a desequilibrar, ocorrendo maior atividade dos osteoclastos, responsáveis pela reabsorção do osso.


Especificamente para as mulheres, o estrogênio - um hormônio feminino, mas que presente também nos homens porém em menor quantidade - exerce forte influência sobre ossos, auxiliando a regular e manter o equilíbrio entre perdas e ganhos de massa óssea. Por esta razão, as mulheres na menopausa, com a queda acentuada dos níveis de estrogênio, apresentam risco aumentado no processo de perda óssea em que os ossos passam a se descalcificar tornando-se mais frágeis, evoluindo para a osteopenia e até osteoporose.


A osteoporose está entre as principais morbidades que acometem a mulher no climatério. O processo de redução lenta de massa óssea, acentua-se com a menopausa em que a necessidade do mineral de cálcio, por exemplo, aumenta em 30%. Deve-se lembrar que o cuidado com a saúde óssea deve iniciar já na infância para reduzir o risco de osteopenia e osteoporose no futuro.


Muito embora os mecanismos explanatórios acerca do benefício no consumo de ameixas secas e redução da perda de massa óssea não esteja bem estabelecido – a literatura científica atual ainda é relativamente escassa sobre o tema e mais estudos clínicos devem ser conduzidos, acredita-se que possa ser atribuído à soma de alguns fatores positivos à saúde de estruturas ósseas:


• A perda de massa óssea relacionada à idade, pode ser parcialmente associada ao decréscimo na produção de determinados fatores de crescimento, como o IGF-1 e estudos demonstram que a ameixa seca pode aumentar os níveis de IGF-1 tanto em modelos animais quanto em humanos.


• Outro possível mecanismo explanatório estaria envolvido no aumento dos níveis da glutationa peroxidase, uma enzima com atividade antioxidante que protege da perda da massa óssea. Níveis aumentados de marcadores inflamatórios e de radicais livres parecem estimular a ação dos osteoclastos e promover inibição de osteoblastos.


Em conjunto, é importante considerar que as ameixas secas são fontes de:

• Vitamina K - estima-se que 2 unidades de ameixa forneçam cerca de 10% das necessidades diárias desse nutriente - que, embora não apresente um papel tão significativo para a saúde óssea quanto o cálcio e a vitamina D, por exemplo, os baixos níveis de vitamina K circulante têm sido associados à baixa densidade óssea. Alguns estudos demonstraram que a suplementação com vitamina K resulta em melhorias na saúde óssea e apontam para o papel potencial desta vitamina retardando a perda óssea em mulheres pós-menopausa e aumentando a resistência óssea e diminuição do risco de fraturas em indivíduos com osteoporose. Apesar de mais estudos serem necessários, acredita-se que a vitamina K está relacionada com a regulação da atividade da osteocalcina, uma proteína de ligação ao cálcio sintetizada por osteoblastos que consistem em células responsáveis pela construção óssea. A vitamina K também atua de forma sinérgica com a vitamina D para regular e estimular a produção de osteoclastos, as células que removem o osso “velho” para que o osso “novo” possa ser depositado em seu lugar.


• Vitamina C - cerca de 2 unidades de ameixa apresentam aproximadamente 16% da quantidade necessária diariamente - que, por sua vez, pode promover aumento da massa óssea e reduzir as taxas de fraturas, possivelmente isso ocorre, pois a vitamina C suprime a atividade dos osteoclastos – as células destruidoras de osso, enquanto também estimula os osteoblastos - células de construção óssea (citadas anteriormente). Quando este processo ocorre de forma equilibrada, há a renovação óssea saudável e constante, processo fundamental para prevenir as fraturas. Adicionalmente, na insuficiência de vitamina C, o colágeno não pode ser hidroxilado e, portanto, não pode ser formado corretamente. Uma vez que os osteoblastos fabricam colágeno para ligar as células da matriz óssea formando a hidroxiapatita, a vitamina C assim desempenha um papel importante na saúde óssea.


• O magnésio, por sua vez, atua na homeostase óssea e mineral juntamente com o cálcio, sendo necessário para o crescimento e a estabilização de cristais ósseos. O magnésio estimula a calcitonina, hormônio responsável por colocar o cálcio do sangue para os ossos e inibe a ação do paratormônio (PTH), que retira o cálcio dos ossos, além de ser necessário para a conversão da forma inativa da vitamina D para a forma ativa.


• As ameixas secas têm quantidades mais elevadas de boro em relação a maioria das outras frutas. O boro parece modular o metabolismo ósseo e do cálcio, desempenhando um papel importante na preservação da densidade mineral óssea.



Referências

Jenkins DJ, Srichaikul K, Kendall CW, Sievenpiper JL, Abdulnour S, Mirrahimi A, Meneses C, Nishi S, He X, Lee S, So YT, Esfahani A, Mitchell S, Parker TL, Vidgen E, Josse RG, Leiter LA. The relation of low glycaemic index fruit consumption to glycaemic control and risk factors for coronary heart disease in type 2 diabetes. Diabetologia. 2011 Feb;54(2):271-9.


Mayer et al. EMBRAPA. Pêssego, nectarina e ameixa: o produtor pergunta, a Embrapa responde. Coleção 500 perguntas, 500 respostas. Brasília, DF: Embrapa, 2019.

Núcleo de Estudos e Pesquisas em Alimentação (NEPA), Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Tabela brasileira de composição de alimentos (TACO). 4ª ed. Campinas: NEPA-UNICAMP, 2011.


Nutrient Data Laboratory – USDA (United States Department of Agriculture) National Nutrient Database for Standard Reference.


Wallace TC. Dried Plums, Prunes and Bone Health: A Comprehensive Review. Nutrients. 2017 Apr 19;9(4):401.

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