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  • Foto do escritorKelly V. Giudici

Comfort food nos tempos de pandemia



Comer, assim como qualquer outra fonte de prazer, sempre foi associado a mecanismos cerebrais compensatórios. Dado o contexto totalmente sem precedentes que estamos vivendo, em que a pandemia do COVID-19 tem obrigado as gerações atuais a se confinar, e o mundo a mudar seu funcionamento, é normal que uma mistura de sentimentos e emoções predomine nas pessoas. Ansiedade, medo, cansaço, stress, saudade de quem não podemos encontrar, preocupação... a lista vai longe. Mas seguimos, na medida do possível, vivendo um dia de cada vez, e tentando manter a “normalidade” (seja lá o que este conceito será a partir de agora).


Neste momento especial, é comum que a tendência a buscar na comida o conforto (mental e físico) do qual estamos sendo privados aumente. Isso, por si só, não é um problema, desde que esteja inserido em um cenário de auto-conhecimento e, principalmente, aliado ao equilíbrio (palavrinha mágica que sempre permeia nossas reflexões por aqui!).



O que é comfort food?


É cientificamente comprovado que alguns alimentos têm uma capacidade especial de promover sensações de segurança, conforto e alegria. Conhecidos como comfort food (ou comida reconfortante), estes alimentos costumam ter algumas caraterísticas:


• alta palatabilidade (sabor agradável), geralmente proporcionada pela mistura de carboidratos e gorduras (alguém pensou em chocolate e sorvete?!);


• capacidade de evocar memórias da infância (bolo, bolinho de chuva, pão de queijo, pipoca, aquele quitute feito pela avó, a receita de família...);


• elevada temperatura, principalmente em dias mais frios (chás e outras bebidas quentes, sopas);


• ingredientes responsáveis por exalar um cheiro bom (como canela, gengibre, noz moscada, ervas aromáticas).



Como aproveitar os benefícios da comfort food sem prejudicar a saúde?


• O mais importante é entender que a comida, bem como qualquer outra fonte de prazer, não é a solução que irá resolver os problemas pelos quais estamos passando.


• Assim como qualquer excesso, precisamos também ter em mente que tudo o que dá prazer, se consumido sem medidas, pode ter o efeito reverso e ser prejudicial à saúde física e mental. No caso da comida, é fácil imaginar o que pode acontecer: ganho de peso e emoções ruins como culpa e insatisfação serão as consequências mais prováveis. E, convenhamos, tudo o que não precisamos neste momento é adicionar mais sentimentos ruins ao nosso dia-a-dia.


• Por isso, moderação é a palavra. O ideal é que o conceito de comfort food seja inserido dentro da rotina de alimentação diária (e das refeições usuais), e não ser suplementar a ela. Optar por alimentos de alta densidade energética (como aqueles ricos em açúcares e gorduras) com muita frequência pode desbalancear a dieta, o que se torna ainda mais perigoso se aliado à reduzida prática de atividade física causada pelo confinamento. Estes devem então ser menos frequentes, e consumidos em menor quantidade.


• Seguindo a mesma lógica, optar por alimentos reconfortantes de densidade energética mais baixa significa que eles podem estar presentes com mais frequência, e/ou em maiores quantidades. Chás sem açúcar e sopas, por exemplo.


• No mais, busque diversificar as fontes de prazer. Assim, as chances de exagerar em qualquer uma delas se tornam menores, bem como o risco de desenvolver qualquer tipo de comportamento compulsivo. O NutS já abordou aqui diversas sugestões para tornar este período de quarentena mais feliz e criativo. Confira aqui e aqui!




Referências


Aguiar-Bloemer AC, Diez-Garcia RW. Influence of emotions evoked by life events on food choice. Eat Weight Disord. 2018;23(1):45-53.


Klatzkin RR, Dasani R, Warren M, Cattaneo C, Nadel T, Nikodem C, Kissileff HR. Negative affect is associated with increased stress-eating for women with high perceived life stress. Physiol Behav. 2019;210:112639.


Soffin MT, Batsell WR Jr. Towards a situational taxonomy of comfort foods: A retrospective analysis. Appetite. 2019;137:152-162.


Ulrich-Lai YM, Fulton S, Wilson M, Petrovich G, Rinaman L. Stress exposure, food intake and emotional state. Stress. 2015;18(4):381-99.

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