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  • Foto do escritorNatália P. Castro

O dilema da gordura e do açúcar



Há muitos anos é utilizada dieta hiperlipídica (rica em gordura) para simular os efeitos da obesidade em animais. Verdade seja dita: os animais de laboratório (como ratos e camundongos) não ganham peso corporal como nós ganhamos, apesar de apresentarem todas as doenças associadas à obesidade, como a hiperlipidemia e aumento de gordura corporal. Os artigos científicos atribuem a ausência de alteração no peso desses animais a um metabolismo competente e eficiente. Contudo, um novo modelo de obesidade em animais revelou que o consumo de açúcar (sacarose), associado à dieta hiperlipídica, é extremamente eficaz no rápido aumento de peso dos animais de laboratório, com consequências drásticas para o metabolismo. Para se ter uma ideia, em artigo que ainda não foi publicado realizado com camundongos fêmeas, em apenas seis dias é possível notar diferença estatisticamente significante no peso dos animais que consomem dieta controle e aqueles que se alimentam de dieta hiperlipídica e hiperglicídica. E mais, o consumo excessivo de açúcar é tão impactante, que as mudanças são, inclusive, comportamentais: as fêmeas que se alimentam dessa dieta são mais estressadas.


Uma prova de que isso vem ganhando mais importância nos últimos tempos foi a recente alteração das “Dietery Guidelines”, que eliminou a restrição do consumo de gordura diário, que era acompanhado por um consequente consumo elevado de carboidratos (ou açúcar), como método eficaz para prevenir a obesidade e outras doenças. Os nutricionistas sabem da importância das "Dietery Guidelines" como referência do que um indivíduo e até mesmo populações devem ingerir: os parâmetros de energia e nutrientes desse guia são usados para montar cardápios e para averiguar a necessidade de suplementação de macro e micronutrientes. Essa alteração tem grande impacto na base da alimentação da população, e interfere com muitas instituições envolvidas com a nutrição, como escolas, hospitais e restaurantes. Foi então reconhecida, finalmente, por uma instituição de referência, que o consumo de gordura não é o único responsável pela obesidade! E ainda levanta o que a gente já estava começando a perceber com o estudo em animais: que o consumo excessivo de açúcar, além do consumo excessivo de gordura, também tem importante contribuição com o início do processo de obesidade e o aumento do peso corporal.


O objetivo desse texto não é apontar mais um vilão da obesidade, mas sim reafirmar que não existem vilões (e é isso que foi reconhecido pelo Department of Health and Agriculture e pelo Department of Health and Human Service – com a mudança do guia alimentar americano). E, se no campo da Nutrição, há muitos estudos que podem causar confusão (vide o dilema do ovo: é bom ou ruim?), a literatura nacional e internacional são unânimes: a melhor forma de prevenir doenças como a obesidade é adotar uma alimentação equilibrada, sem grandes restrições, e a prática regular de atividade física. E, nesse contexto, é possível consumir vez ou outra alimentos ricos em gordura e açúcar, desde que inseridos em uma dieta balanceada. Para aqueles que têm dificuldade em comer tudo moderadamente, procurar um bom nutricionista, que se atentará às suas necessidades, é fundamental.



Referências


Mozaffarian D, Ludwig DS: The 2015 US Dietary Guidelines: Lifting the Ban on Total Dietary Fat. JAMA 2015 Jun 23;313:2421–2422.


Malafaia AB, Nassif PAN, Ribas CAPM, Ariede BL, Sue KN, Cruz MA: Indução de obesidade com sacarose em ratos. ABCD Arq Bras Cir Dig (São Paulo) 2013;26:17–21.


Apesar de ter citado apenas referências internacionais, para quem se interessar por orientações mais gerais sobre alimentação saudável, nós recomendamos o Guia Alimentar para a População Brasileira, disponível no site do Ministério da Saúde: http://portalarquivos.saude.gov.br/images/pdf/2014/novembro/05/Guia-Alimentar-para-a-pop-brasiliera-Miolo-PDF-Internet.pdf.

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