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  • Foto do escritorNatália P. Castro

Aventuras de carnaval

Durante o carnaval viajei para o litoral nordestino. A viagem foi ótima, mas algumas ocorrências me motivaram a escrever o texto desta semana. Ocorre que, entre os excelentes restaurantes que frequentei, muitos serviam frutos do mar. E, é claro, a culinária de frutos do mar do nordeste está entre as melhores do país, pois a matéria prima é fresca e, disseram-me, deliciosas.


Eu nunca gostei muito de frutos do mar. Isso porque meu pai e avó tiveram reação alérgica violenta ao camarão. Lembro-me que minha avó guardava em uma caixinha de metal uma seringa com epinefrina, para ser administrada via intramuscular imediatamente em casos de reações alérgicas extremas. Por isso, nas refeições familiares, ou mesmo ocasionalmente, nunca fomos ofertados frutos do mar. E hábitos formados na infância, como já sabemos de nossos textos anteriores, tendem a ser duradouros.



Voltando... Dificilmente eu escolheria viver perigosamente pedindo frutos do mar nos restaurantes que visitei no Nordeste. No entanto, eu experimentei muitos pratos com iguarias locais, como bolinhos de macaxeira com charque, caldinho de feijão, agulhinha empanada, entre outros, e pedia substituições quando tinha frutos do mar. Em uma ocasião pedi que os mexilhões servidos com outras entradas fossem substituídos por outro petisco.


À noite, minhas mãos estavam cobertas por pequenas bolhas aquosas, bem desconfortáveis. Essa mesma situação se repetiu noutro dia da viagem. Fui a um restaurante conhecido por servir peixes e frutos do mar e, mesmo sem ter pedido frutos do mar, à noite apresentei a mesma dermatite. Por isso, hoje, falaremos sobre alergia alimentar.


Definição

A alergia alimentar ocorre quando há uma resposta imune exacerbada em resposta à exposição a algum alimento (geralmente via ingestão). A alergia não deve ser confundida com as reações não imunológicas, como a intolerância a lactose (deficiência de lactase), mas nós falamos sobre isso em outra postagem (da nutricionista Kelly).


Crianças


Estima-se que 5% das crianças apresentam alguma alergia alimentar. Isso pode ser particularmente preocupante no início da vida, quando o bebê deve ganhar peso rapidamente e, por conta de uma alergia alimentar (via leite materno), pode não ganhar peso de forma adequada, tendo seu crescimento comprometido. Aqui podemos citar as alergias desenvolvidas por crianças de até 1 ou 2 anos de idade. Os alimentos aos quais as crianças têm mais reação imune exacerbada são:


Os mecanismos e motivos que levam crianças a desenvolverem alergias a alguns alimentos não foram completamente elucidados. Sabe-se que evitar estes alimentos faz parte do manejo da doença, que, para a maior parte das crianças tende a se resolver até a adolescência.


Os sintomas frequentes podem ocorrer de minutos até 2 horas após a ingestão do alimento alergênico e varia de simples, como dermatites, aos mais severos, como anafilaxia, que culmina na obstrução das vias aéreas, podendo causar morte.


Adultos


Em adultos, a alergia é mais comum após os 30 anos de idade. E, geralmente, envolve a sensibilização prévia, ou seja, a formação de anticorpos IgE a determinadas substâncias.

  • O contato com o pólen pode desencadear a síndrome alérgica oral, que é uma de alergia alimentar mais amena, caracterizada pelo contato da boca ou garganta com frutas, oleaginosas e legumes crus. Os sintomas gerais incluem coceira e inchaço não grave da boca, face, lábios, língua e garganta.

  • A alergia ao látex por funcionários de saúde, laboratórios, cozinheiros e outros que permanecem utilizando o material pode desencadear alergia a kiwi, banana, pêssego, abacate, figo, pimentão, tomate e batatas

Em adultos, a alergia alimentar está mais associada a alguns alimentos e varia de lugar pra lugar. Acredita-se que de acordo com a frequência desses alimentos na dieta da população.

No entanto, alergia a frutos do mar e a oleaginosas são as alergias mais comuns na população adulta. E os sintomas mais relatados são:

  • Dermatológicos: prurido, urticária, vermelhidão e edema

  • Olhos: conjuntivite, lacrimação, edema e prurido

  • Trato respiratório: espirros, congestão nasal, prurido, edema de laringe, sensação de constrição respiratória, voz mais rouca, dispneia e cianose

  • Cardiovascular: taquicardia, bradicardia, arritmia, hipotensão e parada cardíaca

  • Gastrointestinal: náuseas e vômitos, dor abdominal, inchaço e diarreia

  • Neurológico: tonturas, síncopes e convulsões

Desmistificando, é também relevante mencionar que a alergia alimentar, na sua maior parte, ocorre por conta da proteína do alimento. Por isso, é pouco provável que agrotóxicos recrutem o sistema imune da forma como é necessária para desencadear reação alérgica. Essa pergunta costuma ser frequente em consultórios.


Além disso, apesar da alergia alimentar ocorrer após exposição a alimento alergênico, apenas o contato pode desencadear reação local, como a dermatite que desenvolvi durante o carnaval. Hoje, suponho que eu entrei em contato indireto com os frutos do mar. Ou porque o recipiente não foi lavado adequadamente ou os utensílios usados entraram em contato com esse tipo de alimento.


O manejo da doença envolve sempre evitar os alimentos que provocam alergia alimentar. E, por isso, cuidado redobrado na hora de pedir alimentos em restaurantes. Nos Estados Unidos e Europa, aos que apresentam choque anafilático existe a opção da compra de uma caneta com epinefrina, chamada Epipen. Mas, por enquanto, esta não é uma opção viável para os brasileiros.



Referência

https://www.eaaci.org/resources/books.html





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