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  • Foto do escritorClarissa T. H. Fujiwara

Raio-X do alimento: chá verde e chá branco



Com a proximidade do inverno e a queda da temperatura observada nos termômetros, a busca por alimentos e bebidas que aqueçam e tragam conforto térmico aumenta. Dentre estes recursos se destacam os chás e infusões. Neste sentido, no post de hoje iremos abordar o consumo dos chás verde e branco, obtidos da Camellia sinensis, a mesma planta que também dá origem a outros chás conhecidos - como o preto e oolong - e que se distinguem de acordo com o processamento e grau de fermentação.


Os chás verde e branco não são fermentados, ao passo que o chá oolong é parcialmente fermentado enquanto o chá preto é completamente fermentado. Para o chá verde, as folhas são colhidas jovens e submetidas à secagem, sendo as folhas enroladas ainda quentes e expostas ao vapor d’água, passando por uma rápida secagem, o que resulta em um produto de coloração verde-escura. Já no caso do chá branco, são colhidos os brotos, que são protegidos da exposição à luz solar durante o desenvolvimento, dando ao produto uma aparência branca - daí o seu nome - resultante da formação reduzida de clorofila.


Dentre os seus componentes de destaque, está presente a vitamina C, responsável pela ação antioxidante, atuando no tecido conjuntivo, no processo de cicatrização tecidual e na manutenção da integridade dos vasos sanguíneos. Atribui-se à vitamina B2 (chamada também de riboflavina) as funções de reparação e integridade dos tecidos (sobretudo do sistema ocular), sendo que sua falta pode causar dermatite seborreica, fotofobia e lesões nas mucosas. Cabe à vitamina K regular o processo de calcificação tecidual e, junto a outros nutrientes como o cálcio, manter a boa saúde óssea, desempenhando também importante função na coagulação sanguínea, prevenindo hemorragias. O potássio presente no chá atua nos processos de contração e relaxamento muscular, na regulação da pressão arterial e no equilíbrio do pH do sangue. A vitamina B9 (ou ácido fólico) é necessária para a formação das hemácias, participa da síntese do DNA e na gestação é fundamental para a formação e desenvolvimento do feto. Finalmente, o magnésio atua como cofator em diversas reações enzimáticas do metabolismo, como na produção de energia, no crescimento e nas funções de reprodução, auxiliando também na formação de tecidos e ossos.


Cabe ressaltar, porém, que pelo fato de ingerirmos chá como uma bebida (diluído em água), a quantidade final destes nutrientes é limitada.



E quais outros compostos os chás verde e branco têm?



Dentre os polifenóis, os protagonistas são as catequinas, como a epigalocatequina-3-galato (EGCG), às quais são atribuídas um potencial efeito na redução dos níveis de colesterol. A ação antioxidante reduz o estresse oxidativo, induzindo à menor oxidação da fração do LDL-colesterol e a ativação de macrófagos, fatores que resultam na menor formação da placa aterosclerótica e, em última instância, menor risco de doenças cardiovasculares.




As catequinas são conhecidas pela grande capacidade antioxidante e atuam protegendo as células contra os radicais livres, responsáveis pelo processo de envelhecimento precoce. Apesar de ainda carecer de mais estudos, essa atividade antioxidante poderia ter algum efeito na diminuição do risco de doenças neurodegenerativas (como a Doença de Alzheimer) e ainda ter algum benefício sobre a inibição na proliferação de tumores, uma vez que protegeria as células frente ao dano oxidativo gerado por espécies reativas de oxigênio (justamente os radicais livres, que podem provocar danos ao DNA). O estresse oxidativo, somado aos danos cumulativos em tecidos, figura como fator de risco importante para o desenvolvimento da maioria dos tipos de câncer. Ademais, é possível que as catequinas possam apresentar capacidade de inibir a proliferação de vasos sanguíneos, necessária ao crescimento dos tumores, bem como intervir no crescimento de células cancerosas, pela indução da apoptose – a morte celular programada.



É útil no processo de perda de peso?


Aqui cabe uma ressalva: o efeito termogênico decorrente do consumo dos chás verde e branco que muitas vezes são associados a um efeito de grande magnitude no processo de emagrecimento, na realidade, é discreto e, isoladamente, pouco significativo na perda de peso, considerando o mínimo efeito sobre o incremento no gasto de energia do organismo. O balanço energético negativo e, portanto, a perda de peso, devem partir fundamentalmente de ajustes dos excessos e carências alimentares e na prática regular de atividade física, ok?



Como consumí-lo?


Uma curiosidade: são denominados chás somente as bebidas provenientes das folhas da Camellia sinensis, enquanto as infusões são obtidas a partir da imersão de partes de plantas, como folhas, raízes e frutas em água quente. Portanto, são infusões a camomila, capim-limão, hortelã, maçã entre outras variações.


Recomenda-se o uso das folhas secas para o preparo dos chás, que devem ser mantidas em recipiente hermético próprio em local fresco, seco e longe da exposição à luz do sol. Apesar de não haver uma padrão, de forma geral para o seu preparo, orienta-se a adição das folhas do chá verde ou branco na proporção de 1 colher de sopa para 1L de água (quente, porém não fervente), mantendo as folhas em infusão por cerca de 3 a 5 minutos.



Algumas ideias para desfrutar o chá verde e branco são adicionar gengibre em fatias finas, gotas de limão ou até raminhos de hortelã, que podem agregar sabores e aromas diferenciados ao chás. Um chai latte pode ser preparado misturando o chá com leite (ou bebida vegetal), adicionada de especiarias, como uma pitadinha de canela. Outra sugestão - mais refrescante para os dias quentes - é combinar o chá resfriado com um suco de frutas (como sucos de pêssego ou abacaxi), adicionado de cubos de gelo.



Quando restringir?


Em virtude do conteúdo de cafeína, seu consumo frequente não é indicado para pessoas que apresentam gastrite ou refluxo gastroesofágico, pois poderia piorar essas condições. Contraindica-se o seu consumo a pessoas hipertensas ou que apresentam doenças cardíacas.


Sugere-se restringir ou limitar a ingestão de alimentos e bebidas que contenham cafeína a indivíduos com distúrbios do sono. Porém cabe ressaltar que apesar de conter cafeína, a presença de catequinas e de um aminoácido em particular chamado L-teanina podem atenuar o efeito estimulante da cafeína, por meio da redução da atividade da cafeína no sistema nervoso central e pelo estímulo às ondas cerebrais alfa, promovendo um estado estado altamente relaxado de consciência.


A tabela abaixo compara a quantidade média de cafeína encontrada no chá e outras bebidas com cafeína, além do chocolate. De forma geral, orienta-se que consumo total de cafeína para adultos saudáveis deva ser inferior a 400mg ao dia.


Vale lembrar que os taninos em excesso podem reduzir a absorção de determinados nutrientes, como o ferro, devendo ser ingerido longe das principais refeições para não prejudicar a sua obtenção. Visto que possui vitamina K, não deve ser utilizado concomitantemente a medicamentos com ação anticoagulante, como a varfarina, com o objetivo de não potencializar seus efeitos e interferir na coagulação do sangue.



Referências


Khokhar S, Magnusdottir SG. Total phenol, catechin, and caffeine contents of teas commonly consumed in the United kingdom. J Agric Food Chem. 2002 Jan 30;50(3):565-70.


Coimbra S, Castro E, Rocha-Pereira P, Rebelo I, Rocha S, Santos-Silva A. The effect of green tea in oxidative stress. Clin Nutr. 2006 Oct;25(5):790-6. Epub 2006 May 15. 2006. PMID:16698148.


Kuriyama S, Shimazu T, Ohmori K, Kikuchi N, Nakaya N, Nishino Y, Tsubono Y, Tsuji I. Green tea consumption and mortality due to cardiovascular disease, cancer, and all causes in Japan: the Ohsaki study. JAMA. 2006 Sep 13;296(10):1255-65. 2006.


Pastoriza S, Mesías M, Cabrera C, Rufián-Henares JA. Healthy properties of green and white teas: an update. Food Funct. 2017 Aug 1;8(8):2650-2662.

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