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  • Foto do escritorKelly V. Giudici

Os perigos de ser "super saudável"



Se você acha que uma alimentação nutricionalmente equilibrada é certamente o mesmo que comer de maneira saudável, este texto é para você. Pois se preocupar demais com a alimentação nem sempre é sinônimo de saúde. Esta frase lhe parece estranha, por ter sido escrita por uma nutricionista? Sinal de que realmente precisamos falar sobre isso.


Uma alimentação saudável não envolve somente nutrientes e calorias. Envolve prazer, sabor, interação social e rituais. A grande quantidade de informação sobre Nutrição que nos cerca têm, infelizmente, ajudado a propagar alguns conceitos que podem mais atrapalhar do que ajudar quem busca rever seus hábitos alimentares.


Diferentemente do que pode parecer, comer de maneira saudável e equilibrada não é sinônimo de alimentação cara, de produtos diet e light, de restrições calóricas e de horários, de comidas cheias de nutrientes mas com gosto ruim, de nem chegar perto da mesa de doces em uma festa de aniversário, nem de comer somente orgânicos ou de seguir uma dieta vegana e sem glúten ou sem lactose.


Vale deixar bem claro que tudo isso mencionado acima pode fazer parte de uma alimentação saudável, equilibrada e feliz, mas também pode ser sinônimo de transtornos alimentares, de deficiências e/ou excessos nutricionais e, o mais preocupante, de causa de infelicidade.


O que é alimentação saudável então?


É complexa, assim como toda a ciência da Nutrição. Mas ao mesmo tempo é simples. A chave consiste em trabalhar o equilíbrio individual. Conhecer bem o seu corpo e o que cada alimento pode fazer por ele é certamente de grande valia, mas mais importante do que isso é aprender a ter um relacionamento tranquilo com a comida, e não se sentir obrigado a seguir absolutamente todas as "regras" da boa alimentação (mesmo porque as recomendações variam de pessoa para pessoa. A maioria das pessoas não precisam fugir do glúten, por exemplo).


(Aliás, o assunto do glúten ainda te incomoda e gera dúvidas? Já falamos dele aqui!)


Quando o excesso de "saúde" vira um problemão


Para ter uma ideia, existe um transtorno alimentar caracterizado justamente pela obsessão por alimentos "saudáveis": a ortorexia nervosa. Apesar de ainda não ser oficialmente descrito pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais da Associação Americana de Psiquiatria (DSM-5), já é reconhecido e tratado por especialistas da área. Quando o interesse por uma alimentação teoricamente saudável ultrapassa limites (afetando, ironicamente, a saúde psicológica, física e a vida social), transforma-se em uma doença, que demanda tratamento.


Claro que esta condição extrema não se desenvolve em todos aqueles que passam a se interessar mais profundamente sobre a Nutrição, mas alguns comportamentos específicos podem sinalizar atenção. Alguns sinais frequentemente associados à ortorexia incluem:


- Evitar situações de socialização em que alimentos "não-saudáveis" serão servidos;

- Levar sua própria refeição para eventos como festas de aniversário, casamento e outras celebrações;

- Punir-se por algum eventual "deslize" na alimentação com restrições (alimentares e/ou de outra natureza);

- Só conseguir comer um alimento depois de verificar sua tabela nutricional e/ou calcular a quantidade de nutrientes e calorias da sua porção;

- Não conseguir consumir refeições preparadas por outras pessoas, por não ter controle de quais ingredientes foram utilizados nem sobre sua forma de preparo;

- Julgar pessoas com escolhas alimentares diferentes da sua;

- Tentar impor sua opinião e hábitos alimentares aos demais.


Culpa, um gatilho poderoso


Comer não deveria ser um problema. Então, não deixe que seja. Não deixe a culpa acompanhar suas refeições, nem dominar sua relação com a comida. Este sentimento é um gatilho poderoso para o desenvolvimento de transtornos relacionados com a alimentação.




Lembrando de sempre trabalhar o seu equilíbrio individual, o NutS deseja a você um ótimo Natal e uma feliz ceia em família!




Referências


American Psychiatric Association. (2013). Diagnostic and statistical manual of mental disorders (5th ed.). Washington, DC.


Cena H, Barthels F, Cuzzolaro M, Bratman S, Brytek-Matera A, Dunn T, Varga M, Missbach B, Donini LM. Definition and diagnostic criteria for orthorexia nervosa: a narrative review of the literature. Eat Weight Disord. 2018 Nov 9. doi: 10.1007/s40519-018-0606-y. [Epub ahead of print]

Håman L, Barker-Ruchti N, Patriksson G, Lindgren EC.Orthorexia nervosa: An integrative literature review of a lifestyle syndrome. Int J Qual Stud Health Well-being. 2015 Aug 14;10:26799.

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