Kelly V. Giudici
Se abrir para o novo

Hábitos são hábitos justamente porque não requerem muito esforço. São assimilados de maneira tão natural que sua execução é, de certo modo, automática. Quem nunca se viu fazendo algo sem nem planejar, e ao se dar conta pensou: "É a força do hábito"?
Há diversas técnicas que podem ser usadas para ajudar na aquisição de novos hábitos e/ou na dissolução de hábitos antigos. Mas hoje não falaremos disso, mas sim do que precisa vir antes.
Antes de partir para a mudança de hábitos (seja ela qual for, mas claro que aqui focamos em mudanças relacionadas à alimentação e à qualidade de vida), é preciso querer mudar, o que por vezes envolve livrar-se do preconceito sobre o que está por vir.

Comer melhor não é sinônimo de deixar de sentir prazer com a alimentação. Muito pelo contrário! Aprender a se alimentar de maneira equilibrada é extremamente libertador, uma vez que você entende o que está comendo e consegue dosar o próprio equilíbrio, sem culpa e sem restrições.
Outro ponto importante é entender que o seu paladar de hoje não será mais o mesmo. Ele pode ser treinado, gradualmente. E, com o tempo, a bioquímica age em seu favor, e seu corpo passa a sentir prazer consumindo alimentos que antes não causavam sensações de bem-estar. E passa a se sentir verdadeiramente saciado com quantidades que antes não o faziam. Por isso não é necessário sofrer por antecipação pensando que a comida vai "perder a graça".
Aí você pode estar se perguntando: "Como isso é possível, se eu já fiz dietas várias vezes e ficava irritado(a), ansioso(a) e realmente sentia falta das comidas da minha "vida normal" e da saciedade que elas me causavam?" Pois a resposta já está aí, inserida neste próprio comentário. Estas "várias dietas" foram, muito provavelmente, dietas restritivas, que não levavam em conta suas preferências alimentares e eram difíceis de seguir, por terem sido começadas de maneira brusca e sem relação com os hábitos alimentares anteriores. Dietas assim são um imã para o efeito-sanfona e para a frustração. Assim como a ideia de dicotomia entre "dieta" e "vida normal".
Antes de querer mudar sua alimentação é preciso entender que a dieta faz parte da vida normal. A vida normal não vai parar para você "estar de dieta". Porque a dieta não acaba, tudo o que comemos é a nossa dieta! Ela pode ir sendo adaptada, mas você sempre terá uma dieta, seja ela como for. É claro que existem abordagens dietéticas específicas que podem ser orientadas por profissionais e seguidas por determinados períodos, com o devido acompanhamento. Mas é justamente este acompanhamento profissional que irá ajustar tal abordagem às particularidades de cada paciente, para que haja otimização do resultado, duração certa e, principalmente, integração com o estilo de vida da pessoa.

Assim, exercitar a paciência será fundamental, já que o processo mais seguro e efetivo de mudanças de hábitos alimentares é gradual. Para isso, estabelecer metas pequenas e factíveis é de grande ajuda.
Por fim, há de se falar daquele sentimento que só atrapalha qualquer mudança de hábitos: a culpa. Sim, além de não ajudar, ela atrapalha. Pensar sobre isso antes mesmo de começar a mudar seus hábitos é imprescindível se quiser aumentar o seu bem-estar e diminuir o stress. Neste quesito, é importante saber diferenciar falhas e fracassos, como já abordamos aqui. Há também outro sentimento que pode dificultar: o medo. Mas este, porém, não precisa ser eliminado. Ele pode seguir viagem com você, desde que ele não o domine. Ficou curioso(a)? Pois falamos mais sobre como conseguir mudar mesmo com medo do que está por vir neste texto aqui. Vale a leitura!