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  • Foto do escritorNatália P. de Castro

Relato de caso e a importância da nutrição no ambiente hospitalar

O texto de hoje visa mostrar como o estado nutricional (IMC) e a nutrição podem ser afetadas por uma doença que aparentemente nada tem relação com a alimentação e como a nutrição é chave na reabilitação. Hoje, vou compartilhar um caso de uma paciente jovem, que esteve internada no Hospital das Clínicas por complicações relacionadas à Síndrome de Sjögren.


Atualmente sabe-se que a síndrome de Sjögren primária é uma doença crônica, preponderante no sexo feminino, auto-imune, que afeta cerca de 0,6 a 0,8% da população adulta no Ocidente, fazendo desta uma das três doenças auto-imunes, reumática, mais frequente na população (BOWMAN et al., 2004). Como algumas doenças auto-imunes, muitas pessoas podem ter a síndrome de Sjögren e não possuírem diagnóstico, pois os sintomas da doença, na maior parte das vezes, caracteriza-se pelo ressecamento das mucosas, principalmente olhos e boca.

As causas que desencadeiam a síndrome de Sjögren ainda não foram completamente esclarecidas, mas o estímulo externo, como a infecção pelo enterovírus Coxsakie foi apontada com um dos fatores de risco.


Agora, ao estudo de caso:



A paciente TBS, sexo feminino, com 21 anos no dia da admissão, foi admitida no Pronto-Socorro do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo com fortes dores abdominais, iniciadas 3 meses antes, quadro de vômitos e diarréias e perda de 20Kg do seu peso habitual. Antes disso, no ano anterior, a paciente já havia sido internada outras três vezes no Hospital de Heliópolis, com queixa de fortes dores abdominais. Exames indicaram necrose de cólon transverso, necrose e perfuração de íleo terminal, necrose e perfuração de íleo, necrose e perfuração de sigmóide. Após abordagem cirúrgica de remoção de parte do intestino delgado e todo o cólon, a paciente ficou com o remanescente de 140 cm de intestino delgado, com uma ileostomia terminal (o tamanho usual do intestino delgado varia entre 3,36 m a 7,64 m). Na internação, a paciente pesou 37 kg e mediu 1,67 m (IMC = 13,3 kg/m2), considerada com muito baixo peso. Sabia-se, após a cirurgia, de possível diagnóstico de doença reumática, indicados pelos exames de sangue. Mais tarde, confirmou-se diagnóstico de Síndrome de Sjögren. A necrose de partes do intestino ocorreu devido ao processo inflamatório característico da doença.


Em decorrência das complicações intestinais, a paciente foi submetida à nutrição parenteral. A nutrição parenteral se trata da administração de nutrientes (proteínas, gorduras, carboidratos vitaminas, minerais e eletrólitos) pela via intravenosa. Este tipo de nutrição se faz necessária quando os pacientes não conseguem ingerir o aporte adequado de nutrientes pela via enteral (por condições relacionadas à passagem de alimentos até o estômago ou mesmo por limitações impostas pelo tamanho do intestino - pela menor absorção dos nutrientes). Para que o intestino remanescente fosse conservado, a paciente também passou a recer 288 kcal por dia via sonda enteral.


Desde de sua admissão hospitalar, a equipe multidisciplinar de terapia nutricional (EMTN) passou a trabalhar diariamente na nutrição da paciente. A dieta foi evoluindo gradativamente, até início da alimentação pela via oral. Estamos falando aqui de cálculos a cada 2 dias do estado nutricional da paciente acamada e de cálculos a cada 2 dias para suprir suas necessidades nutricionais pela via parenteral, enteral e oral. Há outras nuances e cuidados em relação às dietas hospitalares: quando a nutrição enteral é implementada, deve-se calcular também o débito das ostomias e estimar o quanto efetivamente está sendo asborvido. Na nutrição parenteral devemos nos preocupar com a osmolaridade/osmolalidade (lembram?) da dieta para que não haja ruptura da veia em que a nutrição está sendo administrada. Assim, há um limite de nutrientes que é possível ofertar via intravenosa.


A nutrição hospitalar é específica para cada caso e indivíduo e costuma ser decisiva na recuperação de pacientes graves: há dietas especiais para queimados; há dietas para aqueles que não conseguem comer pela via oral, não conseguem evacuar, para os mais diferentes tipos de condições médicas. Há dietas específicas para o período de pré-cirurgia e para a recuperação mais rápida, após a cirurgia. Aqui, há pouco espaço para suprir a necessidade alimentar emocional, o comer porque gostamos de comer, embora esta prática também possa ser incrementada ao tratamento. Após a liberação de dieta via oral para a paciente TBS, por exemplo, ela quis comer lasanha e a equipe nutricional discutiu a importância de satisfazer esta vontade da paciente.


A paciente TBS evoluiu bem o longo do tempo e a terapia nutricional, para ela, foi decisiva para recuperação do seu estado nutricional. A reflexão é de que a alimentação pode ser tão importante fora quanto dentro do ambiente hospitalar e que, as vezes, é preciso aceitar que nem sempre devemos deixar que alimentaçãoseja guiada pelas emoções.


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