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  • Foto do escritorKelly V. Giudici

Gordura trans: por que fugir dela?



Você já deve ter ouvido falar que a gordura trans faz mal à saúde. Mas o que isso quer dizer?


Quem é ela?


As gorduras do tipo trans levam este nome devido à posição dos átomos de hidrogênio em relação à ligação dupla dos átomos de carbono na sua fórmula química. São naturalmente encontradas, em baixas quantidades, em alimentos de origem animal. O risco à saúde, porém, advém da ingestão da versão produzida pela indústria de alimentos, a partir do processo de hidrogenação de óleos vegetais.


Mas se ela faz mal, por que é usada?

Bom, quando seu uso foi iniciado, obviamente não eram conhecidos todos os efeitos nocivos da gordura trans. E ela oferece vantagens para a cadeia de produção de alimentos: é barata, melhora a textura e aumenta a palatabilidade dos produtos, ajudando a conservá-los e estendendo o seu prazo de validade.


Quais os efeitos no organismo?


Tudo isso, porém, custa caro às nossas artérias. Este tipo de ácidos graxos tem uma habilidade em proporcionar um aumento das concentrações sanguíneas do coleterol LDL (conhecido como "colesterol ruim"), ao mesmo tempo em que reduz o colesterol HDL (o "colesterol bom"). Isso facilita o acúmulo de gorduras na parede dos vasos sanguíneos, favorecendo o entupimento das artérias. Como consequência, a pressão arterial tende a aumentar, e essa é uma das razões pelas quais a elevada ingestão deste tipo de gorduras é associado à obesidade e a diversas doenças cardiovasculares e a doenças neurodegenerativas.

Hoje, já se sabe também que a gordura trans engatilha mecanismos inflamatórios, além de aumentar processos metabólicos que levam à morte das células (apoptose). Alguns estudos sugerem ainda uma possível relação com resistência à insulina e risco aumentado para diabetes mellitus.

Como se tudo isso já não bastasse, um estudo de meta-análise publicado neste ano também encontrou associação entre consumo de gorduras trans e maior risco para câncer de próstata e câncer colorretal (Michels et al., 2021).



Qual o limite de ingestão aceitável?


Não há valores considerados seguros para a ingestão de gorduras trans. Idealmente, elas não deveriam ser consumidas. As recomendações atuais são de que sua ingestão seja inferior a 1% do total de energia (calorias) consumido. Em uma dieta de 2.000kcal diárias, por exemplo, este valor equivale a 2,2g.


Como evitá-la? Para fugir da gordura trans, os rótulos dos alimentos são valiosos. Procure pela quantidade exposta nas tabelas nutricionais dos alimentos, e dê preferência para aqueles que não a contenham. É importante ressaltar, porém, que a tabela pode enganar. Segundo a ANVISA, é permitido que empresas mencionem que o alimento tem "0% de gordura trans na porção" quando o valor for inferior a 0,2g. Mas considerando que muitas vezes a porção indicada é pequena, e que ingerimos diversas porções de variados alimentos ao longo do dia, o valor total de gordura trans "escondida" pode ser bem elevado! Por isso, é importante também ler a lista de ingredientes do produto. Se houver óleo vegetal hidrogenado ou gordura vegetal hidrogenada, ou parcialmente hidrogenados, fuja para as colinas!


No geral, os produtos mais propícios a conter gorduras trans são biscoitos, salgadinhos, massas folhadas, margarinas, sorvetes e sobremesas industrializadas. Muitas empresas, contudo, já estão reduzindo (ou até mesmo banindo) o uso deste tipo de gordura, o que quer dizer que não são todos estes produtos que as contêm.

Como sempre abordamos aqui no NutS, uma alimentação sem radicalismos é o melhor caminho para comer de forma saudável e feliz. É importante conhecer a composição do que comemos para, assim, fazer escolhas conscientes.

Referências

Hirata Y. Trans-Fatty Acids as an Enhancer of Inflammation and Cell Death: Molecular Basis for Their Pathological Actions. Biol Pharm Bull. 2021;44(10):1349-1356. Micha R, Mozaffarian D. Trans fatty acids: effects on metabolic syndrome, heart disease and diabetes. Nat Rev Endocrinol. 2009 Jun;5(6):335-44.

Michels N, Specht IO, Heitmann BL, Chajès V, Huybrechts I. Dietary trans-fatty acid intake in relation to cancer risk: a systematic review and meta-analysis. Nutr Rev. 2021 Jun 4;79(7):758-776.

Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Rotulagem Nutricional Obrigatória. Manual de Orientação às Indústrias de Alimentos. 2a versão atualizada. Brasília, 2005. 44p.

Schwingshackl L, Zähringer J, Beyerbach J, Werner SS, Nagavci B, Heseker H, Koletzko B, Meerpohl JJ, International Union of Nutritional Sciences (IUNS) Task force on Dietary Fat Quality. A Scoping Review of Current Guidelines on Dietary Fat and Fat Quality. Ann Nutr Metab. 2021;77(2):65-82.


Silva TJ, Barrera-Arellano D, Ribeiro APB. Margarines: Historical approach, technological aspects, nutritional profile, and global trends. Food Res Int. 2021 Sep;147:110486.

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