Natália P. de Castro
Estou grávida. Será que eu posso comer...

Este último domingo foi dia das mães e a homenagem do NutS à esse dia tão importante é dedicado às futuras gestantes ou as mulheres que acabaram de se descobrir grávidas. Vamos enchê-las de informações sobre o que temos de evidência científica até o presente momento que sugira o não consumo de alguns alimentos nesse período específico da vida de algumas mulheres.

Estou grávida e amo café. Posso continuar bebendo café (e outras bebidas cafeinadas, como refrigerantes)?
A resposta mais curta e grossa é não, infelizmente. Estudos mostraram que a ingestão diária de cafeína, ainda que pouca, de até 200 mg/dia*, não é segura para o bebê em formação (James, 2020). O consumo da cafeína está associado à maior taxas de aborto espontâneo, baixo peso ao nascimento, prematuridade, entre muitos outros desfechos negativos. Portanto, a cafeína deve ser evitada! Contudo, a cafeína está em muitos alimentos. E, para aqueles que são muito adeptos de produtos cafeinados e acham extremismo parar de consumir tudo que contenha a substância, a Sociedade Americana e Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia consideram seguro o consumo de menos de 200 mg/dia de cafeína. Lembrando que muitos alimentos possuem cafeína e não só o café. Portanto, atentem-se ao consumo de energéticos (aprox. 80 mg de cafeína/245 mL), cafés (235 mL de café coado tem aprox. 133 mg de cafeína), refrigerantes (aprox. 40 mg de cafeína em 350 mL de bebida), chás escuros (aprox. 40 mg de cafeína em 235 mL) e chocolates (aprox. 9 mg de cafeína em uma barra de 45 g).
Estou grávida e estou com muita vontade de comer um churrasco. Posso?

Sim! Desde que as carnes que você consuma sejam todas bem-passadas. As carnes ao-ponto ou malpassadas, que geralmente são as preferidas da população, podem conter microrganismos patogênicos que aumentam risco de parto prematuro, aborto espontâneo e defeitos congênitos. Aí você pode pensar: "ótimo, passar um pouco mais a carne não vai me trazer nenhum grande estresse". Pois é, mas entram nessa lista de alimentos a serem evitados crus, os peixes e ovos. Abrir mão dos sushis e outras comidinhas japonesas cruas nos finais de semana pode ser um pouco mais difícil. Também nada de ovo com a gema mole! Esses cuidados garantirão uma gestação livre de toxoplasmose (protozoário), listeria (bactéria), salmonela (bactéria), entre outras infecções associadas à piores desfechos na gestação. Por ser imunossuprimida (sistema imune tem sua "capacidade reduzida" para possibilitar a implantação do embrião), a gestante e o embrião ficam mais suscetíveis às infecções alimentares. Isso significa que, mesmo com ingestão de poucas unidades de microrganismos presente no alimento, a infecção pode ocorrer. Sobre esse assunto, a FDA fez um informativo que ficou bem esclarecedor e que esta disponível aqui.

Estou grávida e quero comer peixe (assado ou cozido). Posso?
Talvez esta não seja muito uma preocupação nossa aqui no Brasil. Portanto, talvez você nem saiba que as gestantes nos EUA são aconselhadas a evitar o consumo de alguns tipos de peixes pela Food and Agriculture Organization (FDA). Mas esse risco também existe no Brasil. Estudos de amostragem com peixes brasileiros mostraram que nossos peixes também estão contaminados por mercúrio (metilmercúrio), embora os valores não ultrapassem a média máxima de consumo estabelecida pela FDA. A recomendação de consumo de peixes para grávidas é de 3 porções de 250 g por semana. Como alcançar essa meta sem se preocupar com a contaminação por mercúrio dos alimentos de origem marinha? A dica é evitar comer peixes carnívoros, ou seja, aqueles que se alimentam de outros peixes - estes, de uma forma geral, possuem mais mercúrio que os demais peixes. Quais são os peixes que devem ser evitados? Tubarão, peixe-espada, cavala e espadim, entre outros. A lista completa você encontra aqui. Não se preocupem, porque os favoritos salmão, atum (enlatado à óleo - descartem o óleo), sardinha e tilápia estão entre as melhores escolhas de peixe por conterem baixos teores de mercúrio.

Estou grávida. Posso tomar chás?
Não há evidências suficientes que suportem o uso de ervas ou chás na gestação, com exceção do gengibre, que deve ser usado na sua forma in-natura, e pode ser eficaz para conter enjôos. Como os riscos não são completamente conhecidos, não são recomendados o uso de substâncias herbais por gestantes. Há indícios de que o consumo de óleo de amêndoas, alcaçuz, chá de camomila por gestantes pode estar associado ao parto prematuro e o chá das folhas de framboesa pode estar associado ao parto do tipo cesariana (Muñoz et al., 2019).
Estou grávida. Posso comer salada crua?

Não só pode, como deve. No entanto, esse consumo deverá ser feito exclusivamente em casa, onde você, gestante, saberá exatamente que todas as frutas e verduras foram higienizadas da forma correta, livrando-se de possíveis patógenos. Não há como garantir que os estabelecimentos irão cumprir essas normas, portanto sugerimos evitar consumir coisas cruas de todos os restaurantes, mas atenção especial aos restaurantes do tipo self-service.
Outros

Outra sugestão que fica aqui é evitar enlatados durante a gestação e recipientes plásticos. Esses recipientes podem ter BPA ou Bisfenol A, que podem ocasionar problemas para o neurodesenvolvimento do bebê. Assim, as grávidas são encorajadas a comer alimentos frescos, frutas e verduras e evitar alimentos pré-preparados e armazenados em recipientes plásticos.
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Referências
James. Maternal caffeine consumption and pregnancy outcomes: a narrative review with implications for advice to mothers and mothers-to-be. BMJ Evidence-Based Medicine, 2020. DOI: 10.1136/bmjebm-2020-111432.
Hacon et al. Mercury Exposure through Fish Consumption in Traditional Communities in the Brazilian Northern Amazon. Int J Environ Res Public Health, 2020 Jul 22;17(15):5269. doi: 10.3390/ijerph17155269.
Bauer et al., 2021. Mercury Concentrations in Four Marine Fishery Resources from Rio de Janeiro Coast, SW Atlantic, and Potential Human Health Risk Via Fish Consumption. Biol Trace Elem Res, 2021.doi: 10.1007/s12011-021-02596-3. Online ahead of print.
Muñoz Balbontín Y, Stewart D, Shetty A, et al. Herbal Medicinal Product Use During Pregnancy and the Postnatal Period: A Systematic Review. Obstet Gynecol 2019; 133:920.
FDA. https://www.foodsafety.gov/people-at-risk/pregnant-women. Acessado em 12/05/2021.
FDA. https://www.fda.gov/food/consumers/advice-about-eating-fish. Acesso em 12/05/2021.