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  • Foto do escritorKelly V. Giudici

Perda de peso: o que falhar nos ensina?



Você conhece alguém que, encontrando-se com sobrepeso ou obesidade, decidiu perder peso, mudou seus hábitos alimentares e de estilo de vida, emagreceu sem efeito-sanfona, e desde então manteve o novo peso estável, sem grandes variações, por anos? Pois é. Estas pessoas até existem, mas não são nem de longe a maioria.


Perder peso e mudar as medidas corporais não são somente resultado de um déficit de calorias. Obviamente, um balanço energético negativo (ou seja, déficit calórico da ingestão alimentar e/ou aumento do gasto energético obtido com a prática de atividade física) é necessário para o emagrecimento, mas o que determina o sucesso e, principalmente, a manutenção da nova condição física envolve diversos outros fatores (emocionais, hormonais, ambientais).


Vale dizer que neste texto tratamos "perda de peso" e "emagrecimento" como termos genéricos para mudanças corporais contra o sobrepeso e a obesidade. Quem acompanha o NutS, porém, já sabe que os ponteiros da balança não são necessariamente a métrica mais relevante na hora de avaliar a saúde. A composição corporal e os resultados dos exames bioquímicos falam muito mais do que a massa corporal (ou seja, o total de quilos).


Dito isto, voltemos à situação da perda de peso, que não é fácil para muitas pessoas. Para ocorrer de maneira saudável e com mais chances de ser duradoura, a perda de peso demanda tempo, esforço e paciência. Como estes itens são artigos de luxo na sociedade atual, não é incomum falhar durante o processo, e ver os quilos perdidos em semanas ou meses sendo recuperados em dias.


Falha versus fracasso


Mas o que é "falhar"? Falhar pode ser facilmente confundido com fracassar, mas há importantes diferenças. Falhar em uma etapa é diferente de fracassar no processo como um todo. Não encarar cada falha do processo como um fracasso completo é a base para saber aproveitar o que cada falha tem a oferecer.



O que falhar nos ensina?


Antes de tudo, esqueça a culpa. Ela não é ensinamento, mas sim um gatilho para a problematização do percurso.


Em praticamente qualquer âmbito da vida (seja pessoal ou profissional), o combo "tentativa e erro" promovem as condições mais favoráveis para atingir um resultado satisfatório. Por mais que aprender a teoria seja importante, muitas vezes somente os erros obtidos na prática se mostram capazes de alavancar o indivíduo rumo ao próximo passo necessário para o sucesso de sua meta. O ato de falhar, se bem usufruído (isto é, usado como combustível e não como culpa), se traduz em autoconhecimento.


Saber que falhar é possível não quer dizer que todos devam iniciar um processo de mudança nos hábitos alimentares com o conceito pré-estabelecido (ou seja, o preconceito) de que irá falhar. Não é sobre isso que estamos falando. Trata-se de saber que, se isso acontecer, será normal, e que isso representa somente um passo rumo ao alcance da sua meta, e não o fim da trajetória. Ou seja, falhar ensina a ampliar seus horizontes (ou seu campo de visão).


Muitos tendem a enxergar o rumo a um objetivo assim:



O que faz com que qualquer "pedra no meio do caminho" (falha) seja vista, erroneamente, como um fracasso, finalizando precocemente o percurso e voltando ao que chamamos de "estaca zero", em que um novo início é necessário (fazendo todo o esforço anterior ter sido em vão).



Sendo que, na verdade, o caminho natural (que envolve tentativas e erros), seria assim:



Pois então, sabendo usufruir, falhar nos ensina a necessidade de recalcular a rota, ou de reforçar a autodisciplina. Pode ser que a sua meta seja rígida demais, o que demande um recálculo. Pode ser que ela seja adequada, mas que a sua disciplina e motivação é que precisem de mais treino e esforço. Encontrar o equilíbrio é difícil, mas possível. Se fosse fácil, qualquer dieta "milagrosa" (restritiva) que circula na internet resolveria o problema do excesso de peso e obesidade que cresce a cada dia. Mas então, como saber usufruir das falhas?



Como otimizar as falhas e evitar as sensações de fracasso?


● Tenha cuidado ao definir as suas metas. Primeiro, elas devem ser realistas. Não tente se desafiar a perder 15kg em 1 mês, pois seu corpo e sua saúde dificilmente assimilarão isso como normal. Estabelecer metas mais "qualitativas" em vez de "quantitativas" é uma boa pedida. Apegar-se demais a números pode ser um gatilho para ansiedade e frustração desnecessárias.


● Ainda falando sobre métricas, durante o processo de emagrecimento (e pelo resto da vida) evite calcular calorias ou subir na balança com muita frequência. Existe matemática na Nutrição, mas o metabolismo não funciona com a mesma rigidez de uma ciência exata (e esperar o contrário só complica o processo).


● Evite impor metas grandiosas demais (nem em prazos curtos, nem longos). Desmembrar metas em pequenos objetivos de menor porte promove diversas pequenas vitórias ao longo do processo, ao invés de causar a sensação de fracasso ou de desesperança por uma meta muito distante.



● Reavalie as metas ao longo do percurso. Talvez você descubra que ela eram rígidas demais, ou leves demais, frente ao seu desempenho. Ou eram adequadas, mas não contavam com imprevistos (que como o nome mesmo diz, não são previsíveis). Como esperar que o confinamento e isolamento social causados pela pandemia não interfira, por exemplo, em um processo de emagrecimento iniciado no começo do ano? Muitas vezes, há que se flexibilizar.


● Saiba usar as falhas a seu favor, reconhecendo os erros para evitar repeti-los. Repetir os mesmos erros mostra que você continua encarando as falhas como fracassos, e voltando ao ponto inicial do caminho a ser percorrido (o que, em outras palavras, se chama perda de tempo).


● Ou seja, faça de suas falhas um exercício contínuo (em que se melhora cada vez mais), e não uma série de fracassos recorrentes. Isso ajudará a saber quando flexibilizar, sem negligenciar a (temida porém necessária) disciplina.


● Busque apoio profissional. Contar com o acompanhamento de profissionais de saúde pode ser de grande valia, principalmente quando muitas "tentativas e erros" no processo de perda de peso já ocorreram. Nutricionistas, médicos e psicólogos poderão orientar de maneira personalizada cada caso específico.

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