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  • Foto do escritorNatália P. Castro

Você acha que o seu bebê regurgita muito?

Na infância ou mesmo enquanto crianças (e adultos também), em condições normais de saúde, é comum experimentarmos episódios isolados de refluxo gastroesofágico. A maior parte dos episódios são breves e não causam sintomas adicionais, como dano à mucosa do esôfago. Mas, em alguns casos, os episódios de refluxo são associados à complicações, como esofagite e, em bebês ou crianças, pode levar ao comprometimento do ganho de peso e do estado nutricional, o que pode ser preocupante. Por isso, no texto de hoje, decidimos direcionar o texto para o refluxo gastroesofágico em bebês.


O refluxo gastroesofágico é definido pela passagem do conteúdo estomacal para o esôfago. Esse fenômeno é muito comum em bebês saudáveis, que podem apresentar até 30 episódios de refluxo por dia, nem sempre resultando em regurgitação (quando o conteúdo estomacal volta para a cavidade oral sem esforço). Os episódios de refluxo geralmente têm duração menor que 3 minutos e ocorrem imediatamente após as refeições (mamadas). Quando vão ficando mais velhos, os episódios de refluxo que resultam em regurgitação vão diminuindo de forma significativa, tornando-se pouco comum após os 18 meses de vida. Vale ressaltar que o refluxo gastroesofágico é diferente da doença do refluxo gastroesofágico.


Para o diagnóstico de doença do refluxo gastroesofágico é necessário observar os sintomas sugestivos da complicação dos episódios de refluxo, como: irritabilidade, recusa em se alimentar (mamar, ou para crianças com mais de 6 meses, comer), presença de sangue nos episódios de vômito, anemia, sintomas respiratórios e dificuldade para crescer e ganhar peso. O problema com o diagnóstico clínico da doença do refluxo gastroesofágico é que os sintomas são inespecíficos. Por exemplo, nem todas as crianças com doença do refluxo gastroesofágico apresentam azia e irritabilidade. Em contrapartida, a azia e irritabilidade podem ser causadas por outras condições que não o refluxo.


O diagnóstico clínico da doença do refluxo gastroesofágico é feita conforme os sintomas e sinais observados e associados à regurgitação, que estão representados na figura abaixo, uma adaptação para o português da tabela publicada no “Guia para o manejo do refluxo gastroesofágico pediátrico na prática clínica”.



Na observação dessas complicações e associação do sintoma (como a tosse ou dor abdominal, por exemplo) ao quadro de doença do refluxo gastroesofágico, pode ser que seja indicado o monitoramento do pH do esôfago para confirmação da hipótese diagnostica. É considerado um episódio de refluxo gastroesofágico quando o resultado do pH esofágico (obtido com cateter inserido pela cavidade nasal com eletrodos capazes de detectar o pH) é menor que 4.


Mas, antes disso, há modificações que podem e devem ser adotadas para evitar submeter o seu neném à processos mais invasivos para diagnóstico e tratamento do refluxo. E a boa notícia é que é possível reverter o quadro e complicações do refluxo gastroesofágico com algumas mudanças simples. As evidências indicam que a orientação dos pais, acompanhamento e apoio são necessários e suficientes para manejar bebês saudáveis com sintomas de refluxo gastroesofágico fisiológico, antes que evolua para a doença do refluxo gastroesofágico (NASPGHAN, ESPGHAN et al, 2009). Aqui vamos falar um pouquinho do que devemos ou não devemos fazer, de acordo com evidências científicas, para melhorar os sintomas de refluxo gastroesofágico no bebê.


Modificações sugeridas para reduzir os eventos de refluxo gastrointestinal no seu bebê

Primeiramente, é importante dizer que a presença de refluxo gastroesofágico ocorre tanto em bebês exclusivamente amamentados quanto naqueles que são alimentados por fórmulas infantis. Mas, uma subpopulação de crianças que tem alergia ao leite de vaca apresenta sintomas similares ao refluxo gastroesofágico. Portanto, a primeira indicação é:

  • Para crianças que mamam fórmulas ou leite de vaca, experimentar eliminar as fórmulas com proteína do leite da vaca e leite de vaca da dieta da criança por 2 semanas. Nesses casos, recomenda-se o uso de formulações extensamente hidrolisadas ou de aminoácidos por pelo menos 4 semanas. Caso os episódios de regurgitação reduzam drasticamente, é possível que o bebê tenha alergia à proteína do leite da vaca.

Como algumas proteínas passam, em menores quantidades, para o leite materno, para crianças que são amamentadas ao seio, recomenda-se:

  • Remover leite de vaca e ovos da dieta materna pelo período de 2 semanas e observar a resposta do bebê à dieta materna. Atenção: geralmente os sintomas de refluxo gastroesofágico nunca são severos o suficiente que justifiquem a interrupção da amamentação ao seio.

Um estudo demonstrou que bebês que consomem grandes volumes podem estar mais propensos a regurgitação. Mas, geralmente, não se recomenda reduzir o volume das mamadas por períodos longos, porque pode comprometer o ganho de peso e a saúde do bebê.


  • Crianças que mamam na mamadeira podem ter a densidade calórica da fórmula aumentada. Ou seja, fazendo uma formulação mais concentrada, a quantidade de calorias por ml da formulação é maior. Só então é possível reduzir os volumes das mamadas sem comprometer a saúde do bebê. Atenção: é necessário acompanhar a evolução do bebê, monitorando o peso e aceitação da dieta e frequência de regurgitações/dia.


  • Não usar espessantes para alterar a consistência do leite. Apesar de ser uma medida popular, estudos indicam que o espessamento de formulações com amido de milho ou farinha de arroz (mais comum nos Estados Unidos) não normaliza o pH do esôfago (sugerindo que o refluxo está mantido). Mas pode reduzir o volume regurgitado (não a frequência). Essa medida também não é interessante, por aumentar a velocidade de ganho de peso do bebê - por ser mais grosso, é necessário aumentar o furo do bico da mamadeira, o que pode levar a obesidade na infância.


  • Experimentar posicionar a criança deitada de barriga pra baixo quando ela estiver acordada e monitorada. Estudos indicam que há redução de refluxo quando a criança é colocada de barriga pra baixo em comparação a quando é colocada de barriga pra cima. Mas, atenção! Não deixar o bebê dormindo nessa posição e não o deixar desassistido quando estiver de barriga pra baixo.

  • Não deixar o bebê no bebê conforto. Um estudo mostrou que a posição semi-supino para o bebê (que é a posição que ele fica no bebê conforto) aumenta o número de episódios de refluxo gastroesofágico.

Lembrem-se que o refluxo gastroesofágico é comum e ocorre com todos os bebês. O importante é observar a saúde global do seu neném. Caso ele esteja bem de saúde, ganhando peso e comprimento, não é necessário ficar tensa/o. Caso julgue que os episódios de regurgitação ou vômito estão frequentes e estiver observando algumas das complicações apontadas na figura, procure adotar as medidas sugeridas. Possivelmente, as correções no posicionamento e a exclusão de potenciais alérgenos da alimentação do bebê (seja ele alimentado por fórmulas ou amamentado ao seio) pode resolver o problema. Mantenha-se sempre conectado ao seu pediatra para maiores informações e assistência.


Optamos também por adaptar para o português o esquema abaixo, que pode ser de grande utilidade para as mães e pais preocupados com o refluxo dos seus nenéns:


Referência:


NASPGHAN, ESPGHAN et al. Pediatric Gastroesophageal Reflux Clinical Practice Guidelines: Joint Recommendations of the North American Society for Pediatric Gastroenterology, Hepatology, and Nutrition (NASPGHAN) and the European Society for Pediatric Gastroenterology, Hepatology, and Nutrition (ESPGHAN). Journal of Pediatric Gastroenterology and Nutrition, 49, 498-547, 2009.

As imagens foram obtidas dos seguintes sites:

https://www.saintlukeskc.org/health-library/necrotizing-enterocolitis-nec-newborn

https://babyroad.com.au/everything-you-need-to-know-about-baby-car-seat-safety/

https://br.depositphotos.com/stock-photos/prone-position-baby.html

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