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  • Foto do escritorClarissa T. H. Fujiwara

Raio-X do alimento: Chia

A chia (Salvia hispânica L.), da qual conhecemos principalmente a semente, é uma planta originária de região do México e Guatemala, cujo gênero Salvia consiste de cerca de 900 espécies, amplamente presentes em diversas regiões do globo, incluindo a África Austral, América e Sudeste da Ásia. Historicamente, sabe-se que a chia tinha uma presença proeminente, ao lado de milho, feijões e do amaranto estava presente no cotidiano da alimentação - e até para o uso medicinal - de antigas populações astecas e maias.

Apesar do México ser o maior produtor de chia, atualmente, ela é também cultivada em outros países da América, sendo cultivada principalmente por suas sementes - cujos tons de cor variam de preto, cinza ao branco - e sua planta produz flores de coloração branca e roxa.

E nos últimos anos, aqui no Brasil e em outras regiões do mundo, a semente de chia ganhou destaque em manchetes de notícias pela suas propriedades nutricionais e potenciais benefícios à saúde.

Mas o que a semente de chia tem?

Cabe antes ressaltar que as sementes de coloração diferente, sejam pretas ou brancas, apresentam uma pequena diferença na morfologia - mas não do ponto de vista nutricional - já que as sementes brancas tendem a ser maiores em comparação às sementes pretas.

Mas dando continuidade, quanto aos valores nutricionais para 100g de semente de chia, podemos visualizá-los na tabela a seguir:

Fonte: United States Department of Agriculture (USDA).

Sobre a composição das sementes de chia, observa-se que elas contêm um alto teor de gorduras, com praticamente 42% de gorduras totais, dentre os quais predominam as gorduras do tipo insaturadas, especialmente as poliisaturadas. Quanto aos macronutrientes, apresentam em ordem decrescente, 29% de carboidratos e 18% de proteínas. Apenas para ilustrar, em comparação a grupo de alimentos como cereais, por exemplo, no milho, o teor de proteínas é de 9,4%, o arroz é de 6,5% e, o trigo de 12,6%.

Adicionalmente, em relação a alguns compostos mais específicos, as sementes secas de chia contêm quase 9% de compostos fenólicos - que contribuem para a atividade antioxidante, dentre os quais são descritos altos níveis de ácido cafeico, ácido clorogênico, quercetina, kaemferol, bem como pequenas quantidades de daidzeína, genisteína e gliciteína (que consistem em isoflavonas).

Chama a atenção o alto conteúdo de fibras alimentares. Vejamos: 2 colheres de sopa rasas (aproximadamente de 20g), são encontradas 5,4g deste componente, o que corresponde a cerca de 21% das recomendações de consumo diárias de fibras. Na sua maioria, a fração insolúvel representa aproximadamente 85-93% do conteúdo total de fibras. Além de manter a saúde intestinal em dia, já que as fibras insolúveis atuam especialmente sobre a formação do bolo fecal, a ingestão de fibras pode diminuir o risco de câncer de intestino, além de potencialmente auxiliar no melhor controle dos níveis de açúcar no sangue e, ademais, refeições com maior teor de fibras alimentares podem contribuir para maior saciedade e, consequentemente menor ingestão alimentar (lembrando que o processo de emagrecimento por si só, decorrerá da somatória do equilíbrio do restante da alimentação, prática regular de atividade física e medidas de controle do stress!).

Voltando a falar sobre as gorduras, dentre as sementes oleaginosas, a semente de chia chama atenção pela grande proporção de gorduras poliinsaturadas (denominadas PUFAs, do inglês polyunsaturated fatty acids), contendo dois ácidos graxos essenciais, ou seja, que o corpo não é capaz de sintetizar devendo, portanto, ser obtido por meio da alimentação. Temos então o ácido graxo linoléico, conhecido como ômega-6 (LA, ω-6) e, principalmente em maior proporção, a semente de chia ganha destaque por ser uma fonte uma conhecida de ômega-3, o ácido α-linolênico - a forma encontrada em alimentos de origem vegetal (apenas para referência, outra fonte reconhecida é a semente de linhaça!). O ômega-3 é um composto que tem sido extensivamente estudado quanto ao potencial efeito sobre a melhora da saúde cardiovascular, redução de níveis elevados de triglicérides, influência positiva sobre o desenvolvimento neurológico e redução de risco de algumas doenças neurodegenerativas, como Doença de Alzheimer.

Cabe ressaltar que a composição química das sementes de chia podem ser influenciadas por diferentes fatores, seja o solo em que a planta é cultivada, fatores climáticos (alguns pesquisadores sugerem que o aumento de temperaturas durante o desenvolvimento da planta pode reduzir o conteúdo de PUFAs presentes na semente), além de época e método de extração utilizado.

Diante disso, pesquisadores avaliaram numa revisão sistemática e metanálise que investigou os efeitos da ingestão de semente de chia em alguns parâmetros da saúde humana, observou-se somente numa análise menor de subgrupos, efeitos combinados da semente de chia sobre a menor glicemia após a refeições, em melhora do o perfil de colesterol e de redução da pressão arterial que foram estatisticamente significativos. Não obstante, a magnitude dos efeitos não se mostraram clinicamente relevantes, indicando asso, que mais estudos devem ser realizados para elucidar de fato os potenciais efeitos da chia sobre a saúde.

Como incluir a chia na alimentação?

Nos últimos anos, a chia tem sido mais amplamente difundida em diferentes países e, claro, empregada pela indústria alimentícia de distintas formas, seja a semente íntegra ou moída na forma de farinha ou somente o óleo contido na semente. Esses produtos são adicionados a biscoitos, massas, bolos, snacks e também o óleo utilizado como suplemento alimentar.

Inclusive na tecnologia de alimentos, com a busca de alternativas para o consumo de alimentos de origem animal e, devido às suas propriedades hidrofílicas formando uma espécie de gel - estima-se que as sementes possam absorver até 12 vezes seu peso em água, as sementes de chia chegam a ser utilizadas como substitutos de ovos em algumas receitas.

Apesar de não haver propriamente um valor bem estabelecido, recomenda-se atenção para não exagerar na ingestão de chia, um consumo não superior a 48 g/dia. Cabe inclusive mencionar que há relato de caso de obstrução de esôfago e necessidade de hospitalização em uma instituição norte-americana, decorrente da ingestão exagerada de sementes de chia por indivíduo sem quaisquer líquidos, favorecendo a oclusão. Muito embora a chance de ocorrer episódios assim serem baixas, indivíduos que apresentam especialmente disfagia, ou seja, dificuldade de deglutir alimentos e bebidas devem tomar cuidado e, é recomendável para que o consumo da semente de chia se em maiores quantidades seja da semente previamente hidratada em líquido como a água ou acompanhada de líquidos.

Referências

Knez Hrnčič M, Ivanovski M, Cör D, Knez Ž. Chia Seeds (Salvia hispanica L.): An Overview-Phytochemical Profile, Isolation Methods, and Application. Molecules. 2019;25(1):11. Published 2019 Dec 18. doi:10.3390/molecules25010011

Teoh SL, Lai NM, Vanichkulpitak P, Vuksan V, Ho H, Chaiyakunapruk N. Clinical evidence on dietary supplementation with chia seed (Salvia hispanica L.): a systematic review and meta-analysis. Nutr Rev. 2018;76(4):219-242. doi:10.1093/nutrit/nux071

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