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  • Foto do escritorNatália P. Castro

Entre as pedras preciosas, o zinco pode ser a mais preciosa de todas



O zinco é um micronutriente. Por definição, micronutrientes são elementos cuja ingestão em pequenas quantidades é necessária para sobrevivência. Estima-se que a quantidade necessária de ingestão diária de zinco seja de 8 mg para mulheres e 11 mg para homens (Dietary Reference Intake, 2001). O zinco, assim como o selênio (confira aqui), participa de inúmeras funções metabólicas: está envolvido na atividade de 100 enzimas, regula o sistema imunológico, participa da síntese de proteínas, na recuperação de lesões, síntese de DNA e divisão celular. O zinco também sustenta o desenvolvimento e crescimento saudável do feto (durante a gestação), criança (infância) e adolescente, além de ser absolutamente necessário para o olfato e paladar.


Desta vez, focaremos na função do zinco para o sistema imunológico, uma vez que, em tempos de coronavírus, nunca foi tão necessário mantermos o bom funcionamento do nosso sistema imune. Além disso, temos escutado um burburinho na comunidade médica de que o zinco está sendo associado a outras terapias medicamentosas no tratamento de pacientes diagnosticados com COVID-19.


O que sabemos sobre o zinco


Há muito tempo se sabe da função do zinco para o nosso sistema imunológico. A deficiência deste mineral, em ratos, resulta na atrofia do timo (glândula na qual os linfócitos T amadurecem) e do sistema linfático, que entre muitas outras funções, produz as nossas células imunes (Prasad, 1993). Estudos subsequentes mostraram que ratos que ingeriam dieta com quantidade baixa de zinco, quando expostos a um agente infeccioso, não apresentaram resposta imune adequada, com reação lenta ao patógeno se comparados aos ratos que ingeriam quantidades adequadas de zinco. Estudos com células mostraram resultados similares: mostrou-se que células de camundongos deficientes em zinco possuem resposta imune inadequada, mas, quando o zinco é adicionado à cultura celular, a resposta imune melhora em 30 a 40% - resposta imune similar às células de camundongos jovens e imunocompetentes (Prasad, 1993).


Em humanos, há uma doença autossômica recessiva (genética) caracterizada pela má absorção do zinco, chamada de acrodermatite enteropática. Nesta doença, o zinco não é absorvido pela mucosa gastrointestinal, resultando em inflamações da pele, diarreias, problemas no desenvolvimento e infecções frequentes por fungos, bactérias e vírus. Todos esses sintomas são facilmente corrigidos com a suplementação adequada de zinco.


Além da redução da produção de células do sistema imune, estudos sugerem que o zinco também participe da quimiotaxia dos leucócitos, ou seja, na forma com que os leucócitos se locomovem até chegar aos locais em que são necessários para conter o processo infeccioso.


O esqueminha abaixo mostra o nosso sistema imune normal (como deveria ser) e como seria sem o zinco. Essa figura foi adaptada para o português, mas originalmente foi publicada por Bonaventura e colaboradores (2015) - a referência está disponível abaixo.


Na primeira figura, observa-se as células do nosso sistema imune (temos um chamado inato e outro chamado adaptativo), funcionando em pleno vapor: os monócitos se convertem a macrófagos com estímulo de citocinas inflamatórias, as células PMNs (polymorphonuclear cells, que são os neutrófilos, eosinófilos e basófilos - células de defesas), linfócitos, todos trabalhando normalmente para conter o agente infeccioso.

Na segunda figura, observa-se o comprometimento de quase todas as vias da primeira figura.




Fonte: Bonaventura e colaboradores, 2015.


Portanto, é possível perceber a importância que tem o zinco para o nosso organismo.



Em quais alimentos podemos encontrar o zinco?


Podemos encontrar zinco em uma série de alimentos. As maiores concentrações deste mineral estão nas ostras, mas carnes vermelhas e aves também são ricas em zinco. Outras fontes de zinco são a castanha do Brasil, os feijões, outras castanhas/nozes/amêndoas, grãos integrais e produtos lácteos.


Fonte da tabela: Tabela de composição de alimentos por nutriente, USDA .



Uma observação relevante aqui é de que os fitatos (compostos presentes nos elementos de origem vegetal crus) podem atrapalhar a absorção adequada do zinco, reduzindo a sua biodisponibilidade.



Quanto de zinco devemos ingerir para termos um sistema imune saudável?


Depende da nossa idade. Abaixo constam as necessidades de zinco de acordo com as faixas etárias.

Mulheres grávidas ou que estão amamentando tem necessidades aumentadas e devem ingerir 11 e 12 mg de zinco, respectivamente

Fonte: DRI, 2001.



E se eu suplementar o zinco?

Sabemos que há uma série de produtos no mercado que adicionam zinco à sua composição, visando, de acordo com o rótulo, fortalecer o sistema imunológico. Um exemplo de produto como esse são as vitaminas C efervescentes. Eu devo tomar zinco para fortalecer o meu sistema imune?

Pela nossa formação, acreditamos que a suplementação deve ser feita apenas quando estritamente necessária e sob cuidadosa avaliação de um profissional de saúde, seja ele nutricionista ou médico. Mas o nutricionista é o profissional mais indicado para prescrição deste micronutriente, uma vez que para chegar ao valor a ser suplementado, estima-se a quantidade de zinco presente na alimentação daquele paciente, associado à exames de sangue, para avaliar a presença da deficiência, a necessidade de suplementação e o quanto deve ser suplementado.

A ingestão máxima de zinco, assim como as necessidades, também depende da faixa etária e está representada na figura abaixo.

Mulheres grávidas ou que estão amamentando não devem ter consumo superior a 34 mg de zinco por dia.

Fonte: DRI, 2001.


A suplementação de zinco de 60 mg/dia, que não é considerada excessiva, por tempo maior que 10 semanas, foi associada ao comprometimento das concentrações de cobre no organismo, com disfunções enzimáticas (DRI, 2001). Já o uso crônico de 80 mg de zinco por mais de 6 anos foi associado ao aumento do número de hospitalizações por problemas no sistema geniturinário (Johnson e colaboradores, 2007).



Zinco e COVID-19?


Existem apenas 14 estudos sobre o zinco e o novo coronavírus e todos são artigos de revisão. Isso significa que não há ensaios clínicos publicados, que testaram a suplementação de zinco em pacientes com COVID-19. Sim, isso acontece porque é um assunto relativamente novo. O banco de registros de ensaios clínicos, clinicaltrials.gov, aponta que, atualmente, há 13 estudos em andamento que investigam o tratamento da COVID-19 com zinco e outros compostos. Dentre esses estudos, apenas 1 deles é brasileiro, da Universidade Federal do Ceará, de Fortaleza, e testa a ação profilática de 66 mg de zinco suplementados diariamente, por 50 dias, e associado à agora famosa hidroxicloroquina, para a prevenção do contágio por COVID-19 pelos funcionários que trabalham em hospitais e que, por isso, estão mais expostos ao novo coronavírus.


Portanto, ainda não há evidências sobre a utilização do zinco para tratamento ou prevenção do COVID-19. Recomendamos prudência caso pense na suplementação, apesar da falta de evidência científica - procure um profissional para acompanhá-lo(a) se esse for o caso. Recomendamos, sempre, uma dieta rica em alimentos que contenham zinco e tenha certeza de que, caso a sua dieta seja equilibrada (seja vegetariana/vegana ou não), é muito provável que o seu zinco esteja em dia.


Referências utilizadas

  • DRI, 2001. Dietary Reference Intake, 2001. Disponível em: <https://www.nap.edu/catalog/10026/dietary-reference-intakes-for-vitamin-a-vitamin-k-arsenic-boron-chromium-copper-iodine-iron-manganese-molybdenum-nickel-silicon-vanadium-and-zinc>. Acesso em 27 de maio de 2020.

  • Bonaventura P, Bennedetti G, Albarede F, Miossec P. Zinc and its role in immunity and inflammation. Autoimmunity Reviews 2015; 14:277-85.

  • Jonhson AR, Munoz A, Gottlieb JL e Jarrard DF. High dose zinc increases hospital admissions due to genitourinary complications. J Urol 2007;177:639-43.


Créditos das imagens:


-https://www.collinsdictionary.com/pt/dictionary/english/zinc

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