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  • Foto do escritorNatália P. Castro

Antes e depois

Nunca ficou tão evidente o quanto a ciência é fluida. Isso significa que o que sabíamos acerca de um determinado tema pode mudar com novos achados e tecnologias. Isso faz com que o conhecimento seja ao mesmo tempo fluido e, a medida que aprendemos mais, com pesquisas consistentes apontando para um mesmo desfecho, este conhecimento deixe de ser fluido para se tornar sólido. É natural, portanto, que, ora apareçam estudos para indicar que o uso de máscaras caseiras de tecido não apresentam benefícios na proteção contra o coronavírus e, dias depois, esse conhecimento seja desbancado por outros estudos que afirmam que se você usar determinado tecido ou modelo de máscara, existe sim proteção contra a propagação do vírus.


A ciência da nutrição sempre foi sujeita a essas variações. Quem não se lembra do polêmico ovo? Cujo consumo diário foi, um dia não tão distante, considerado ruim por aumentar o colesterol. Hoje sabemos que o consumo diário de um ovo não está associado ao aumento do colesterol, quando inserido numa dieta equilibrada. Hoje, vamos mostrar como as diretrizes que usamos atualmente para alimentação infantil está diferente do que era preconizado nos anos 50.


Como?


Mexendo nas coisas aqui de casa, achei uma relíquia: um livro que minha mãe havia ganhado 40 anos antes e guardou, sobre alimentação infantil. Eu já havia encontrado o livro há alguns meses, mas achei este o momento mais oportuno para compartilhar seu conteúdo.




Este livro foi publicado em 1957 e tem início com um prefácio, escrito pelo Dr. César Pernetta, que foi um médico pediatra brasileiro, nascido em Curitiba, no ano de 1906. No prefácio, o médico escreve que "A autora, baseada na experiência adquirida na criação dos próprios filhos, reuniu uma série de receitas e notas culinárias, que irão prestar muito auxílio às mães na execução de sua delicada tarefa".


No ano de 1957, o nosso Ministério da Saúde era uma criança. Havia apenas 5 anos que o então Ministério da Saúde e Educação foi desmembrado em: ministério da saúde; e ministério da educação e cultura. Realmente, naquela época, não se falava muito em alimentação.


Continuando...


Após o prefácio e um trecho intitulado "Duas palavras às mães" (se tivesse sido escrito nos dias atuais, o título desse trecho certamente seria "Duas palavras aos pais"), o livro tem um capítulo sobre constituição dos alimentos, seguido pelo capítulo "Quando ele não quer comer".





Neste momento, apresentamos o nosso guia alimentar para crianças brasileiras menores de 2 anos de idade, publicado em 2019. Todas as informações que discutiremos aqui terão como base as informações do Guia Alimentar, que está disponível para toda a população.


Pelo livro de 1957, o início da alimentação complementar acontecia aos 5 meses de idade. Hoje sabemos que até os primeiros 6 meses de vida, a criança deve receber exclusivamente o leite materno.

Sobre os "truques infalíveis" mencionados no livro:

1) Adicionar açúcar à sopa ao invés de sal quando se faz a introdução alimentar.

Não devemos oferecer açúcar e nem bebidas ou preparações açucaradas para crianças menores de 2 anos. Há uma sessão do Guia Alimentar dedicado aos esclarecimentos sobre os motivos de não oferecermos açúcar para crianças menores de 2 anos.

2) Sobre retirar cada dia um legume da sopa para identificar aquela que a criança pode não gostar

Hoje, algumas vertentes de alimentação infantil, defendem o baby-led weaning (temos aqui um post sobre essa técnica que vêm sendo cada vez mais utilizada). Mas, de forma geral, o ideal é que os alimentos sejam ofertados separadamente e não juntos, para que os bebês comecem a se familiarizar com os sabores de cada um.

3) Modificar a consistência da sopa

Sabemos que o início da alimentação não necessariamente precisa ser no formato de sopa. Aliás, hoje não é recomendado que se triture demais os alimentos ao ofertá-los ao bebê.

4) Sobre acrescentar 1 colher de manteiga queimada à sopa do bebê

Prefira preparar os alimentos com óleo vegetal, como o azeite. Essas gorduras possuem ácidos graxos essenciais, como o ômega-3 e, controlando-se a quantidade, fazem bem à saúde.

Por hoje, pararemos por aqui, mas esse livro carrega uma série de informações, que hoje discordamos. Já temos uma série de artigos científicos/evidências que provam que não há benefícios em ofertar açúcar para bebês e, por isso, as evidências passam a virar recomendação. Recomenda-se que não seja oferecido açúcar para crianças menores de 2 anos.


Mas ressaltamos que há um longo caminho a ser percorrido para obtermos recomendações baseadas na ciência. Essa, talvez, seja um dos aprendizados mais importantes do coronavírus: entendermos o quanto a ciência pode contribuir para resolver determinado problema e que esse caminho pode gerar informações confusas para a população. Acima de tudo, precisamos entender o quanto a ciência é necessária e investimentos são obrigatórios para a sua manutenção.

Referências utilizadas:

Horowictz R. Guia de Alimentação Infantil. Editora Lux ltda. Rio de Janeiro, 1957.

https://www.saude.gov.br/hospitais-federais/681-institucional/40886-historia-do-ministerio

http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/publicacoes/guia_da_crianca_2019.pdf

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