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  • Foto do escritorKelly V. Giudici

Jejum intermitente para perda de peso: o que a ciência tem a dizer?



Nos últimos tempos, a mídia elegeu o jejum intermitente como uma das "técnicas de emagrecimento" preferidas. Sua ampla divulgação e os depoimentos de pessoas que, somente controlando o horário das refeições (ou privando-se delas durante boa parte do dia), perdiam peso rapidamente fez com que esta modalidade ganhasse adeptos e simpatizantes.


Mas quais as evidências científicas por trás desta prática? Seria ela segura e realmente cheia de benefícios? Antes de mais nada, é importante ressaltar que o “jejum intermitente” na verdade se trata de um conjunto de práticas com níveis variados de restrição alimentar, de modo que seus efeitos também podem variar amplamente. E vale lembrar, como já mencionado diversas vezes por aqui, que a cada dia constroem-se mais achados científicos comprovando que dietas restritivas não são benéficas à saúde e que, independente do resultado na balança (que pode vir a ser satisfatório a curto prazo), incluem a indesejada perda de massa magra e facilitam o reganho de peso a médio e longo prazo.



A diversidade da técnica e suas origens não bastam para torná-la saudável


Existem diversas “modalidades” de jejum, dos mais “leves” aos mais restritivos, em que o período sem ingerir alimentos pode ultrapassar um dia inteiro. É verdade também que se trata de uma das práticas mais longínquas da espécie humana (por motivos étnicos, religiosos, ou simplesmente pela escassez involuntária de alimentos). Estes argumentos não são suficientes para sustentar, porém, a autenticidade desta prática como um caminho para uma perda (e manutenção) saudável de peso.


Em linhas gerais, as evidências científicas mostram que a promoção da saúde e o combate à obesidade têm mais sucesso com a adoção de hábitos duradouros como a prática regular de atividade física e uma alimentação diversificada baseada em alimentos minimamente processados. Soa desafiador, dependendo quão distante você se encontra deste panorama? Com certeza, pois mudar comportamentos de uma vida inteira certamente exige esforço. Mudanças agudas com data de início e término, por outro lado, parecem mais fáceis, e por isso tornam-se tentadoras.



Mas funciona mesmo? E os riscos?


Um estudo de revisão publicado recentemente (1) verificou, após avaliar uma série de publicações sobre o tema realizadas com humanos ou com animais, que a maior parte dos estudos com humanos resultou em mínima perda de peso e em leves melhoras em biomarcadores, e concluiu que os resultados desta prática são similares aos obtidos com outros métodos de restrição calórica. Embora estudos experimentais em modelos animais tenham verificado alguns potenciais benefícios, como redução do stress oxidativo e efeitos antiinflamatórios, ressalta-se que as investigações atuais foram realizadas com quantidade moderada de participantes e com duração limitada, não sendo suficientes para estabelecer a segurança da prática.


Reforçando a máxima de que fórmulas mágicas para a perda de peso não existem, a Associação Brasileira de Nutrição (ASBRAN) publicou em fevereiro deste ano um parecer oficial (2) emitindo sua opinião sobre o assunto (evidentemente pautada em achados científicos), que reforça que as alegações atualmente existentes para a prática do jejum intermitente são insuficientes para sua recomendação.





Referências


1. Associação Brasileira de Nutrição (ASBRAN). Parecer técnico No. 01/2019. Assunto: jejum intermitente. Disponível em: http://www.asbran.org.br/arquivos/parecerTecnicoJI.pdf Acesso em 14 de maio de 2019.


2. Stockman MC, Thomas D, Burke J, Apovian CM. Intermittent Fasting: Is the Wait Worth the Weight? Curr Obes Rep. 2018;7(2):172-185.

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