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  • Foto do escritorClarissa T. H. Fujiwara

Purinas e sua relação com o ácido úrico e gota

Você já ouviu falar em purinas? E sua relação como aumento do ácido úrico e gota? Primeiramente, as purinas são substâncias encontradas em todas as células do nosso corpo e estão distribuídas em praticamente todos os alimentos - a razão para a sua ampla ocorrência decorre do fato de que as purinas fazem parte estrutural do DNA e RNA dos seres vivos!

No corpo, quando as células morrem, são reciclados também seu material genético e então as purinas são quebradas, resultando como produto da degradação uma substância chamada ácido úrico, sendo este parte de um processo normal no organismo.

A elevação excessiva do ácido úrico na corrente sanguínea, porém, leva à hiperuricemia que, por sua vez pode causar o acúmulo da substância no líquido sinovial presente ao redor das articulações e levar à formação de cristais de ácido úrico (chamados de cristais de urato monossódico). Estes cristais podem se depositar sobretudo em articulações, originando o que se denomina artrite gotosa, ou simplesmente gota, que causa dor intensa e inflamação e pode se apresentar de forma aguda ou crônica.

A gota é mais comum em homens e, entre mulheres, é mais frequente após a menopausa. Apesar de estar relacionada à formação de cristais de ácido úrico, ressalta-se que indivíduos com hiperuricemia não necessariamente manifestarão a doença. Atualmente, os principais fatores envolvidos no aumento da prevalência dessa condição envolvem o aumento da expectativa de vida, uso de determinadas medicações a exemplo de diuréticos, doenças renais como a insuficiência renal crônica, a obesidade e a síndrome metabólica, condição que envolve entre outros critérios, a alteração dos níveis de glicemia e de colesterol, assim como a pressão arterial elevada.

Causas do ácido úrico elevado

É importante salientar que o nível de ácido úrico pode se tornar demasiadamente elevado no organismo sob uma variedade de circunstâncias. O excesso da substância no sangue resulta de fatores como a redução da excreção pelos rins; aumento da síntese endógena, ou seja, a produção pelo próprio corpo – e em conjunto a ingestão elevada de purinas.

Nesse sentido, diante da hiperuricemia, a combinação desses elementos se torna importante para realizar o controle adequado do ácido úrico pelo uso de medicamentos específicos que aumentem a excreção renal de ácido úrico, concomitante ao incentivo para o maior consumo de água a fim de também aumentar a eliminação pelos rins e, em conjunto, ao controle da ingestão de alimentos com alto teor de purinas, visando diminuir a formação de ácido úrico.

Alimentos ricos em purinas

Manter uma alimentação com baixos teores de purinas é a principal orientação para o controle do excesso de ácido úrico, sobretudo diante das crises de gota. De forma geral, os principais alimentos ricos em purinas também apresentam grandes quantidades de proteína. Dessa forma podemos enumerar entre os principais grupos alimentares que devem ser evitados nessa condição:

- Carnes e miúdos: As carnes vermelhas, como bovina, suína e de cordeiro, embutidos – linguiça, mortadela, salame e bacon –, além de aves como o frango, peru e pato possuem alto teor de purinas. Adicionalmente, o fígado e miúdos desses animais apresentam-se como grandes fontes desse componente. Portanto, é recomendável limitar a quantidade de carne ingerida em cada refeição ou até evitar o seu consumo em caso de maior necessidade de restrição. O controle de consumo de purinas vale também diante de preparações que levem extratos ou caldos de carne.

- Peixes e frutos do mar: Apesar de saudáveis, os peixes de forma geral, especialmente a sardinha e a anchova, são ricos em purinas. O mesmo ocorre com frutos do mar a exemplo do camarão, mexilhões e moluscos, como polvo e lula.

- Bebidas alcoólicas: As bebidas alcoólicas, especialmente a cerveja – em virtude da ação de leveduras – é uma grande fonte de purinas e seu consumo deve ser evitado para limitar o consumo de purinas.

- Alimentos como cogumelos, chocolate, oleaginosas – nozes, amendoim, castanhas, pistache e avelã –, leguminosas como o feijão, lentilha e ervilhas, vegetais como a couve-flor, brócolis, acelga, aspargo e espinafre, além de cereais como a aveia também contêm purinas.

Estudos, porém, sugerem que o impacto no consumo de purinas em alimentos de origem vegetal quanto ao risco de gota seja diferente do efeito exercido no organismo pelas purinas encontradas em alimentos de origem animal, como carnes, aves, peixes e frutos do mar, nas também de bebidas alcoólicas.

O leite e seus derivados, como iogurtes e queijos apresentam baixo teor de purinas e, portanto, não necessitam de maiores restrições para o controle do ácido úrico. Estudos epidemiológicos, sugerem inclusive que os lácteos possam reduzir o risco de gota. Este grupo alimentar é importante, visto que figuram também como fonte de proteínas e de alguns minerais na alimentação.

Alimentação para controle do ácido úrico

É de grande importância considerar que a presença de purinas ocorre amplamente em alimentos que inclusive fazem parte de uma alimentação saudável. Porém, diante da necessidade de controle do ácido úrico no sangue e de crises de gota, torna-se importante ajustar e evitar o consumo frequente em grandes quantidades do leque de alimentos ricos em purinas, recordando também que o efeito dos alimentos que contêm purinas não é igual quanto ao risco de gota, sendo as purinas presentes em hortaliças de menor impacto no aumento do ácido úrico em comparação ao de carnes, frutos do mar e bebidas alcoólicas – a exemplo de carnes vermelhas, miúdos, sardinhas e cerveja.

Diante especialmente da fase aguda de gota, torna-se recomendável do ponto de vista nutricional restringir a ingestão diária total de 100-150 mg de purinas para reduzir a formação de ácido úrico – lembrando que porções de alguns alimentos com elevado teor de purinas podem conter até 1000 mg de purinas.

Para evitar desequilíbrios nutricionais, o consumo de laticínios com baixo teor de gordura – como iogurtes e queijos – além de ovos, deve ser estimulado, enquanto alimentos ricos em purinas de origem vegetal muitas vezes não precisam ser completamente eliminados, mas devem ter suas porções controladas.

Por fim, frente à necessidade no controle do ácido úrico e crises de gota, a alimentação deve ser planejada individualmente por um nutricionista, avaliando as necessidades nutricionais e os hábitos alimentares de cada indivíduo, de forma a ajustar a frequência de consumo e tamanho de porções de cada grupo alimentar com o objetivo de contribuir para o melhor controle da hiperuricemia e promover a alimentação equilibrada.

Referências

Zhang Y, Chen C, Choi H, et al. Purine-rich foods intake and recurrent gout attacks. Ann Rheum Dis. 2012;71(9):1448–1453.

Choi HK, Atkinson K, Karlson EW, Willett W, Curhan G. Purine-rich foods, dairy and protein intake, and the risk of gout in men. N Engl J Med. 2004 Mar 11;350(11):1093-103.

Choi HK, Liu S, Curhan G. Intake of purine-rich foods, protein, and dairy products and relationship to serum levels of uric acid: the Third National Health and Nutrition Examination Survey. Arthritis Rheum. 2005 Jan;52(1):283-9.

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