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  • Foto do escritorAndrea D. Toledo

Marketing de alimentos e a obesidade infantojuvenil


A obesidade é um problema de saúde pública, estando associado ao aumento de fatores de risco para inúmeras doenças crônicas, entre elas a doença cardiovascular, diabetes mellitus, doença renal crônica e cânceres. Além de adultos, a obesidade também afeta crianças, e vem crescendo de acordo com os estudos epidemiológicos brasileiros, o último estudo realizado no Brasil mostrou que, 33,5% das crianças e 20,5% dos adolescentes estão com excesso de peso, sendo que, respectivamente, 14,3% e 4,9% já estão obesas.


Somado a isso, há um baixo consumo de frutas e hortaliças e um elevado consumo de alimentos ultraprocessados como bebidas açucaradas, salgados fritos e biscoitos entre os adolescentes brasileiros.


A prevenção da obesidade infantojuvenil deve ser priorizada, uma vez que as crianças e adolescentes com sobrepeso e obesas tendem a desenvolver doenças crônicas em idade precoce e a se tornar adultos obesos. Além disso a obesidade foi considerada a doença mais estigmatizada e menos aceita na infância: sendo motivo de bullying, discriminação e marginalização.


Hoje vivemos em um ambiente, onde os alimentos ultraprocessados (ricos em açúcares, gorduras e sal) estão cada vez mais acessíveis, baratos e divulgados pelo marketing de alimentos. Já é consenso mundial que os fatores ambientais apresentam uma forte influência no comportamento alimentar e no desenvolvimento da obesidade infantil.


Somos diariamente incentivados a consumir esses alimentos através de comerciais de televisão e rádio, matérias na internet, promoção de produtos (amostras grátis, brindes, descontos, embalagens atraentes, locais estratégicos dentro dos supermercados). A maior parte das propagandas de alimentos e bebidas veiculados na televisão são de alimentos ultraprocessados e de baixo valor nutricional.

No entanto, mais preocupante do que o pobre valor nutricional dos alimentos veiculados nas mídias, é o público alvo ao qual é destinada: crianças e adolescentes!


A publicidade de alimentos para crianças utiliza elementos de que elas mais gostam, como personagens, heróis, músicas e brinquedos, tendo efeito direto na sua preferência alimentar e no reconhecimento de marcas por elas. Entre os adolescentes, a atração pelas novas mídias, fizeram com que as iniciativas do marketing atingissem também os jogos e as mídias sociais, influenciando também as preferências alimentares desta faixa etária.


As crianças por estarem em fase de desenvolvimento cognitivo, sozinhas, ainda não conseguem compreender e reconhecer muitos dos elementos de persuasão utilizados pelo marketing. Já os adolescentes, embora possuam capacidade para compreender a intenção das comunicações de marketing, ainda são muito suscetíveis à opinião de outras pessoas e acabam sendo influenciados também.


Nesse sentido, a regulamentação das propagandas destinadas ao público infantil e juvenil, a fim de protegê-los do apelo da indústria de alimentos, é necessária. Tanto a Organização Mundial da Saúde quanto a Organização Pan-Americana de Saúde escreveram documentos e recomendações que apoiam essa prática.


No Brasil, medidas importantes foram tomadas para regulamentar as propagandas destinadas ao público infantil e juvenil, no próprio código de defesa do consumidor, é considerada abusiva toda publicidade que se aproveita da deficiência de julgamento e experiência da criança. No entanto, embora existam leis, ainda faltam órgãos fiscalizadores.


Enquanto ainda não há uma efetiva fiscalização, é necessário investir em estratégias em educação alimentar e nutricional, que promovam autonomia dos sujeitos e maior conhecimento sobre os alimentos que consomem.


O que podemos fazer?

- Conhecer mais os alimentos que consumimos através da leitura dos rótulos dos alimentos (leia o nosso texto: Rótulo de Alimentos: você costuma ler?)


- Conheça as legislações sobre rotulagem e de defesa e direitos do consumidor (acesse as referências abaixo).


- Conheça os programas de televisão e canais na internet que as crianças e adolescentes assistem e procure orientar sobre as estratégias da publicidade para vender produtos.


- Limitar a quantidade de tempo que as crianças passam vendo televisão e outras mídias.


- Leve as crianças para outros locais de compra de alimentos: feiras livres, sacolões. Crie novos hábitos em torno da compra de alimentos (acesse o nosso texto: As férias chegaram! Mas... e a alimentação das crianças?)

Vale sempre lembrar que não existem bons ou maus alimentos, e sim uma alimentação bem ou mal equilibrada. O alimento sozinho não faz mal. Entretanto, hábito alimentar e dieta inadequadas oferecerem riscos à saúde. Conhecer os alimentos que consumimos e nosso direito e dever da indústria!



REFERÊNCIAS


Brasil. Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências. Diário Oficial da União 1990; 12 set.


Brasil. Estatuto da criança e do adolescente, Câmera dos Deputados, Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990. DOU de 16/07/1990 – ECA. Brasília, DF


Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária. CONAR. Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária Código e Anexos, 2017.


Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente. CONANDA. Resolução nº 163, de 13 de março de 2014. Dispõe sobre a abusividade do direcionamento de publicidade e de comunicação mercadológica à criança e ao adolescente. Diário Oficial da União 2014; 4 abr.


Harris JL, Pomeranz JL, Lobstein T, Brownell KD. A Crisis in the Marketplace: How Food Marketing Contributes to Childhood Obesity and What Can Be Done. Annu Rev Public Health 2009; 30: 211–25.


IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa de Orçamentos Familiares 2008-2009: Antropometria e estado nutricional de crianças, adolescentes e adultos no Brasil. Rio de Janeiro; 2010a.


IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Coordenação de População e Indicadores Sociais. Pesquisa nacional de saúde do escolar: 2015. Rio de Janeiro. 2016; 132 p.


Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Guia Alimentar para a população brasileira. 2. Ed. Brasília (DF): MS; 2014.


Norman J, Kelly B, McMahon A-T, et al. Children’s self-regulation of eating provides no defense against television and online food marketing. Appetite 2018; 125:438–44.


Organização Pan-Americana de Saúde. Recomendações da consulta de especialistas da Organização Pan-Americana de Saúde sobre a promoção e publicidade de alimentos e bebidas não alcoólicas para crianças nas Américas. Washington, DC: OPAS; 2012.


Sadeghirad B, Duhaney T, Motaghipisheh S, Campbell NRC, Johnston BC. Influence of unhealthy food and beverage marketing on children’s dietary intake and preference: a systematic review and meta-analysis of randomized trials. Obesity Reviews. 2016; 17(10):945-59.


Souza AM, et al. ERICA: ingestão de macro e micronutrientes em adolescentes brasileiros. Rev. Saúde Pública. 2016; 50 (supl 1): 1-15.

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