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  • Foto do escritorAndrea D. Toledo

A história da alimentação



A alimentação é um tema universal e multidisciplinar. Na tentativa de circundar essa história, os estudos sobre alimentação reúnem os mais diversos enfoques e vertentes históricas, englobando aspectos biológicos, econômicos, sociais e culturais.


Ela é, antes de tudo, indispensável para a vida, indo muito além de uma ação puramente biológica. A alimentação possui uma complexa estrutura de símbolos e significados sociais, religiosos, étnicos e políticos, que se modificam em função do tempo e da evolução humana.


A fome é também muito discutida ao longo da história: “a produção dos alimentos e a sua disponibilidade social têm obedecido a dinâmica milenar de desigualdades distributivas e de crises alimentares. As fomes assolam o passado e o presente da humanidade” (CARNEIRO, 2003; p.23).



As transformações da alimentação a partir do Século XIX...


A alimentação da humanidade foi, ao longo dos anos, muito influenciada pelas evoluções tecnológicas ocorridas no modo de produção, na agricultura, na indústria, nos transportes, na distribuição e no consumo dos alimentos. Em especial, nos séculos XIX e XX – época que foi caracterizada pela Revolução Industrial, que ocorreu inicialmente na Inglaterra, Europa Ocidental e Estados Unidos.


No século XIX, importantes acontecimentos transformaram a alimentação da humanidade: com o desenvolvimento do transporte marítimo e ferroviário, facilitou-se o comércio e o abastecimento dos gêneros alimentícios agrícolas entre os países; o uso de máquinas a vapor no processamento dos cereais aumentou a velocidade e a capacidade de produção; a pasteurização do leite, a tecnologia da refrigeração e o desenvolvimento de outras técnicas de conservação dos alimentos tornou possível a importação dos gêneros alimentícios.


A melhora do abastecimento, produção e conservação dos alimentos tiveram como consequência do aumento ao seu acesso, e reduziram a fome e a desnutrição nos países da Europa e nos Estados Unidos, diminuindo as taxas de mortalidade nesses países nos séculos XVIII e XIX.


O crescimento econômico decorrente da industrialização e do capitalismo, somado ao processo de urbanização das cidades, ao êxodo rural, à inclusão do trabalho feminino nas fábricas e escritórios e à elevação do nível de vida (ocorridos especialmente na segunda metade do século XX), modificou drasticamente o modo de vida da sociedade urbana.


Com menos tempo para as atividades domésticas e a necessidade frequente de alimentação fora do lar, impulsionou-se o surgimento de um vasto setor de alimentação, como: restaurantes, redes de fast-food e a indústria de alimentos “prontos para o consumo”. Da mesma forma, com intuito de facilitar as atividades domésticas, surgiram novas tecnologias de equipamentos eletrodomésticos, fase essa denominada por LEVENSTEIN (2009), autor que descreve os modelos de vida dos americanos, como a “era da comodidade”.


Com a globalização, a intensificação comercial entre os países aumentou muito, permitindo “a difusão de novos hábitos homogeneizados” pelas grandes cadeias multinacionais de alimentos, acarretando transformações globais nos padrões alimentares, com importantes consequências para a saúde das populações.


As transformações no consumo alimentar da sociedade, com o aumento do consumo de alimentos industrializados (geralmente mais ricos em gorduras, sal e açúcar), a alimentação fora do lar e as modificações no estilo de vida, acarretaram no surgimento de novas doenças relacionadas com a alimentação, que incluem as doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) como é o caso do diabetes, das doenças cardiovasculares e da obesidade.



O Século XXI...


A internacionalização da alimentação, resultante da globalização, difundiu os alimentos anteriormente desconhecidos para diversas regiões do mundo, porém foi acompanhada por um desenraizamento geográfico dos mesmos, que assim perderam sua referência regional. Associada ao processo de industrialização da alimentação, esta tendência teve como consequência a padronização dos alimentos, contribuindo com a quebra do vínculo entre alimento e natureza, característico do alimento “moderno”.


“A urbanização, ao desconectar o alimento de seu universo de produção, coloca-o num estado de mercadoria e destrói parcialmente seu enraizamento natural e funções sociais. O alimento torna-se pouco a pouco uma simples mercadoria (...)” (POULAIN, 2004; p.52).


Nesse contexto, e em resposta à nossa alimentação “moderna” (padronizada, industrializada, individualista e descotextualizada), a versão mais recente do Guia Alimentar para População Brasileira, publicada em 2014, traz um apelo para o resgate das habilidades culinárias, da cultura alimentar e da socialização “na hora de comer”, ressaltando a importância da alimentação ser baseada em alimentos in natura ou minimamente processados.


Vale a pena conferir o Guia Alimentar Brasileiro!



Referências


Carneiro H. Comida e sociedade: uma história da alimentação. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2003.


Flandrin J-L, Montanari M. História da alimentação. 6. ed. São Paulo: Estação Liberdade; 2009.


Kac G, Sichieri R, Gigante DP. Epidemiologia Nutricional. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz/ Ateneu; 2007. p. 23-25.


Poulain J-P. Sociologias da alimentação - os comedores e o espaço social alimentar. Florianópolis: Editora UFSC; 2004.


Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Guia Alimentar para a população brasileira. 2. Ed. Brasília (DF): MS; 2014.

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