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Cozinhar: por que é importante para a saúde?


Sempre que tenho a oportunidade no consultório, enfatizo ao longo da conversa com o paciente de que o ato de cozinhar figura como um grande aliado no processo de melhora da qualidade de vida, especialmente para aqueles que não têm esse hábito, seja por não conseguir encaixar essa atividade na rotina, não se organizar nas compras e no preparo ou até por ficar intimidado em meio às panelas. Isso porque cozinhar traz a possibilidade em fazer escolhas alimentares mais conscientes, já que há liberdade em escolher os ingredientes, as combinações, a forma de preparo e a quantidade que é servida, especialmente pensando num contexto que, apesar de estar mudando, ainda se caracteriza pela grande oferta de refeições prontas congeladas nos supermercados ou então servidas em lanchonetes e redes de restaurantes fast-food. Cozinhar permite que o repertório de novos sabores possa ser ampliado pelo contato com diferentes alimentos, especialmente considerando a pluralidade cultural brasileira – proporcional à dimensão continental do país – que se reflete também no que é servido à mesa. A variedade de hortaliças, frutas, peixes e frutos do mar, abundância de carnes, associada às influências africanas, indígenas, européias e de outras populações imigrantes que fizeram e fazem parte da história do Brasil, fazem da cozinha nacional uma das mais ricas do mundo em termos de diversidade de alimentos e sob a ótica nutricional.


Cabe ressaltar que a “arte” de cozinhar traz a oportunidade de criar e adaptar receitas - como substituições de alguns ingredientes nas receitas (como por exemplo, cereais e farinhas refinadas pelas versões integrais), além do uso mais controlado de sal, açúcar e óleo adicionado às refeições. Aliás, o consumo de açúcar e sal é alarmante no país. De acordo com a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) de 2008-2009, estima-se que 61% da população brasileira apresenta um consumo excessivo de açúcares atribuída principalmente à ingestão de bebidas adoçadas como refrigerantes, refrescos e outros sucos. Saindo do açucareiro e indo para o saleiro, estima-se que o consumo médio de sal seja de 12g diárias, ou seja, mais que o dobro da recomendação máxima de 5g estabelecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Diante deste cenário, é de suma importância que o paladar seja gradualmente exercitado, se ajustando a patamares menores no uso e consumo de açúcares e sal.


Outro motivo para cozinhar mais é que, diante da atual conjuntura econômica do país, o preparo da alimentação em casa pode favorecer o controle das despesas com alimentação, sobretudo fora do domicílio, considerando a alta dos preços das refeições em restaurantes que podem pesar no orçamento, como já foi abordado e detalhado aqui no Nuts.

A tomada de consciência e o cuidado com aquilo que irá nutrir o organismo, permite a construção de uma relação positiva com a comida e transforma todo o processo de cozinhar num ato prazeroso e divertido que pode (e deve) ser partilhado com as pessoas do convívio, de forma democrática, sem distinção de gênero ou idade. Vale lembrar que, no caso em refeições feitas no lar, o ato de comer envolve também um olhar mais carinhoso em arrumar a própria mesa para a refeição, bem como de louças e talheres, despertando os sentidos de forma mais completa e proporcionando maior satisfação com a experiência de comer. Inclusive comer à mesa favorece um dos elementos mais importantes de sociabilização, que são as refeições em família ou com as pessoas próximas. As refeições em companhia beneficiam a melhor regulação do quanto se come, sem contar que figura como um espaço valioso para transmissão de conhecimento e valores, permitindo o estreitamento dos laços com quem se compartilha a mesa.


Organizar uma lista de compras com alimentos frescos e o mínimo de industrializados, ler com atenção os rótulos dos alimentos – não somente a tabela nutricional, mas também a lista de ingredientes, são elementos importantes para melhores escolhas na hora de decidir se irá levar um produto para a casa ou não e permite criar um ambiente mais saudável, em relação ao que fica disponível na despensa e geladeira do lar. Sem contar que refeições preparadas em casa proporcionam maior confiança em relação à manipulação e higiene dos alimentos – sobretudo de alimentos consumidos crus, como as folhas e legumes que compõem as saladas - além do cuidado à procedência dos ingredientes a serem consumidos. Esses fatores contribuem para evitar contaminações e prevenir intoxicações alimentares.

E que tal começar a incluir o ato de cozinhar mais frequente no dia-a-dia de casa? Para isso não é preciso como pré-requisito nenhum conhecimento de chef de cozinha da Le Cordon Bleu - vale buscar referências naquele antigo livro de receitas da família, no prato que aquele amigo tanto gosta ou de tantas outras receitas que podem ser encontradas em livros ou na internet, como publicamos periodicamente aqui no NutS.


Referências

Engler-Stringer R. Food, cooking skills and health. Canadian Journal of Dietetic Practice and Research. 2010;71:141-145.

Larson NI, et al. Making time for meals: Meal structure and associations with dietary intake in young adults. Journal of American Dietetic Association. 2009;109:72-79.

Ministério da Saúde. Guia alimentar para a População Brasileira. Brasília: DF, 2014.

Van den Horst K, et al. Ready-meal consumption: associations with weight status and cooking skills. Public Health Nutrition. 2010;14:239-245.

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